terça-feira, 23 de março de 2010

Suspender – ver como vemos

Vivenciamos uma experiência muito bonita e verdadeira na última reunião da SOL que teve como propósito aprofundar nosso aprendizado com o livro Presença.

Minha percepção me diz que o grupo se conectou profundamente e vivenciou a descida do U.

No início da reunião a Cris me ofereceu a tarefa de registrar a reunião para depois relatarmos as principais percepções e colocarmos no site da SOL, Aceitei rapidamente pois a tarefa me pareceu, a princípio,
simples.

Decidi que para registrar as nossas conversas, deveria praticar a escuta profunda e limpa de julgamentos, em suspensão, com o coração aberto e assim comecei a registrar as nossas conversas.

Relato agora a minha vivência da reunião e o que cada momento significou para o meu aprendizado.

Começamos nos apresentando, contando as nossas histórias de vida em busca do nosso propósito, do alinhamento com a nossa alma e como chegamos ao livro Presença e a esta reunião da SOL.

Já na apresentação percebemos, como disse o Fabrice, lembrando do filme
Matrix, que todos nós em algum momento “tomamos a pílula azul”, mostrando a capa AZUL do livro Presença, e descortinamos o nosso entendimento do mundo deixando de aceitar a realidade tal qual nos é apresentada, assim como fez Truman (filme Show de Truman) ao poeticamente subir a escada no meio do cenário de nuvens.

Na busca da suspensão do pensamento e com o coração aberto iniciei um processo de envolvimento com cada participante e com o grupo.

A tarefa não era tão simples assim.

Quebrando o silêncio do início lembramos um trecho do livro onde Otto diz que não mudamos porque achamos que somos imortais.

Isto nos levou a refletir que muitas vezes só acordamos para enxergar a
vida e vivê-la com o nosso coração quando estamos em contato com a morte.

Me tocou particularmente as histórias de vida contadas pela Flávia e Patricia e me lembrei também das minhas histórias de perda e proximidade com a morte e de como estes momentos me levaram a repensar a minha vida.

E como lembrou a Leia estamos sempre procurando a normalidade, mas é no Caos que devemos relaxar e deixar as coisas acontecerem.

Pois são nos momentos de caos e de crise que surgem as oportunidades, mas só vamos enxergá-las se deixarmos de lado os nossos downloadings habituais e visualizarmos
o todo com o coração.

Para exemplificar este pensamento do grupo, Fabrice, relembrando a fala sábia de um amigo, simbolizou que a vaga de um estacionamento só consegue ser preenchida por outro carro se tirarmos o carro que lá está estacionado.

Redirecionar – ver a partir do todo

A Cris nos alertou que não precisamos procurar, caçar o nosso propósito e sim ficar somente Presente, sentindo, aberto, disponível para que as coisas aconteçam, nos contando que Don Juan Matus, dizia que a diferença entre o homem comum e o guerreiro é que o guerreiro está sempre consciente e alerta e com agilidade ele aproveita o centímetro cúbico de oportunidade que lhe foi oferecida.

Neste momento percebi que já aproveitei alguns centímetros cúbicos
de oportunidades que apareceram e que também deixei escapar outros por que não estava alerta.

Maria Lucia lembrou que quando se aconselhava com uma amiga em momentos difíceis ela sempre dizia: “Te aquiete, te aquiete.”

E Andrea nos lembrou do livro A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen de Eugen Herrigel. A flecha é atirada e não é você que a atira, somos instrumento para que a flecha seja atirada.

Mas o que nos desvirtua da Presença? O quanto não acreditamos que sabemos e ficamos empacados? Como ficar inteiro e presente 24 horas por dia?

Neste momento a Marcia nos contou a história da sua reunião ao ar livre, com seu chefe, “sem power point”, sem “ar condicionado” como pontuou o Fabrice, e o quanto foi importante buscar a sua luz interna e encontrar a luz do outro para criar o novo.

Ela dialogou com o coração aberto e gerou um momento empatia e conversa transparente com seu chefe. Ou seja, estar presente é enxergar com o coração.

Deixar ir

A Cris ressaltou que para conquistarmos o letting go, “deixar ir” para
que o novo possa entrar, não precisamos ser perfeitos ou “iluminados”; precisamos apenas renunciar ao controle e procurar nos libertarmos dos aprisionamentos gerados pela “bagagem” adquirida e armazenada ao longo de nossas vidas.

E Carlos relembrando trechos do livro Sidarta de Hermann Hesse, nos explicou
que muitas vezes procuramos e não encontramos e que encontramos
sem procurar.

Precisamos ver a vida como um milagre. Mas como colocou Adrian, ver o milagre, presenciar esta magnitude “dá medo” pois não conseguimos explicá-lo pelo mental e temos a tendência a deixá-lo de lado e entramos novamente na Matrix.

O momento mais tocante da reunião para mim foi a fala da Wilma sobre estar presente na ausência. Esta fala me fez perceber como pessoas que já estão ausentes fisicamente na minha vida são tão presentes nas minhas escolhas na vida.

Ela nos contou com saudosismo os momentos que presenciou a sua avó com sabedoria preparar uma lingüiça, escolher com cuidado seus ingredientes, separá-los, condimentá-los e depois juntá-los.

E comparou este processo ao aprendizado do grupo onde cada um
coloca o seu ingrediente, condimenta, transforma, complementa o
aprendizado do grupo.

A Cris complementou retomando o prefácio escrito por Peter Senge para o livro “A Empresa Viva” de Arie de Geus onde é mencionado que a palavra negócios em sueco significa alimento para a vida e os dois símbolos em Chinês antigo que representam a palavra “empresa” são traduzidos como “significado de vida”.

Refletimos que para que as empresas realmente pratiquem negócios elas precisam
resgatar as conversas sobre coisas que importam e que encantam as
pessoas.

Precisamos voltar a proar, conversar de forma descomprometida e sem objetivo, sem precisar resolver alguma coisa. Precisamos parar de sempre diagnosticar e analisar, vendo o outro como objeto de nossa análise e não como interlocutor de um diálogo aberto que
busca a sintonia.

Um silêncio profundo tomou conta do grupo. Vivenciei um momento
meditativo, onde nada pensava e nada sentia, mas tudo
compreendia.

Percebo agora que o grupo estava profundamente conectado e não precisava mais de palavras para dialogar.

Sai da reunião com um profundo sentimento de conexão e compreendi que a tarefa de registrar o nosso diálogo me propiciou um aprendizado fantástico e uma oportunidade de praticar o U.

Mas como sempre uma tarefa demandada por um mestre a um aprendiz, não é tão simples assim e exigiu um grande esforço emocional. As nossas palavras estavam carregadas de emoções e escutá-las e escrevê-las me levou a vivenciar esta emoção duplamente e ao mesmo tempo permitiu muitas descobertas.

Na tarde do mesmo dia, participei de uma reunião que seria difícil pois os interesses dos participantes, na minha visão inicial, eram contraditórios.

Procurei durante toda a reunião ouvir o outro com profundidade e com o coração e magicamente chegamos a uma solução integrada e inovadora e que atendia plenamente o interesse
coletivo.
Inventário de Empatia : desenvolvimento e validação de uma medida brasileira



Construction of a brazilian measure to evaluate empathy: the Empathy Inventory (E I)







RESUMO

O estudo desenvolveu e analisou as características psicométricas de um Inventário de Empatia (IE). A partir da identificação de 16 situações de interação social, fornecidas pela literatura, foi construída uma escala inicial com 74 itens, baseados nos componentes cognitivos, afetivos e comportamentais da empatia, com afirmativas do tipo Likert, e aplicada em 715 universitários de ambos os sexos, das áreas: humana, biomédica, ciências sociais e exatas.

As análises fatoriais dos componentes principais, com rotação oblíqua, identificaram quatro fatores representativos da estrutura interna do instrumento: Tomada de Perspectiva, Flexibilidade Interpessoal, Altruísmo e Sensibilidade Afetiva.

Tais fatores apresentaram índices de consistência interna que variaram de 0,72 a 0,85, calculados através do coeficiente Alfa de Cronbach. Com base nas características psicométricas do IE, recomenda-se o seu uso tanto em pesquisa quanto em clínica.


Introdução

O termo "empatia" originou-se da palavra alemã "einfühlung", cujo significado, no contexto da teoria da estética do século XIX, referia-se a uma projeção da predisposição interna de um observador, em resposta à percepção de um objeto estético.

A palavra em alemão foi traduzida para o inglês por Titchener, com o nome de "empathy" significando que seria possível conhecer a consciência de outra pessoa, através da imitação interior ou esforço da mente .

Outro significado da palavra "einfühlung" foi proposto por Lipps, em 1903, onde a percepção de um gesto emocional emitido por alguém ativa diretamente a mesma emoção no observador, sem a interferência de rotulação, associação ou tomada de perspectiva

Desde então, a empatia tem sido objeto de estudo da psicologia nas áreas evolutiva, social, da personalidade e clínica (Eisenberg & Strayer, 1992) e mais recentemente, das neurociências (Decety & Jackson, 2004; Preston & de Waal, 2002).

Embora alguns autores defendam que a empatia é um fenômeno predominantemente cognitivo (Eisenberg, Murphy & Shepard, 1997) enquanto outros afirmem que esta é um processo primordialmente afetivo, com alguns componentes cognitivos

a literatura recente tem considerado a empatia como um construto multidimensional, abrangendo componentes cognitivos, afetivos e comportamentais .

O componente cognitivo da empatia caracteriza-se pela capacidade de inferir com precisão os sentimentos e pensamentos de outra pessoa, sem experimentar necessariamente os mesmos sentimentos desta.

Tal perspectiva envolve neutralidade e imparcialidade daquele que empatiza (Eisenberg & cols., 1997; Eisenberg & Strayer, 1992; Ickes, 1997; Long & Andrews, 1990), e tem sido denominado de tomada de perspectiva (Davis, 1980; Ickes, 1997).

Decety e Jackson (2004) afirmam que a tomada de perspectiva requer uma inter-relação dinâmica entre o "eu" (autoconsciência) e o "outro" (consciência do outro). A capacidade para representar e relatar os próprios estados mentais é o que permitirá o conhecimento inferencial do estado mental dos outros.

A autoconsciência e a consciência do outro se desenvolvem simultaneamente nos anos pré-escolares e desempenham um papel importante na regulação das emoções (auto-regulação) e na flexibilidade cognitiva (Decety & Jackson, 2004).

Elas se articulam de tal maneira que, mesmo havendo identificação temporária, não há confusão entre o "eu" e o "outro". Além disso, a flexibilidade e a capacidade de regular a própria perspectiva permitem modular a emoção envolvida na preocupação com o outro (Decety & Jackson, 2004).

A autoregulação e a flexibilidade podem também colaborar na inibição da raiva em situações que envolvam conflito ou frustração interpessoal. O esforço envolvido em compreender as razões do comportamento provocador de alguém favorece a redução da intensidade da frustração, facilitando o diálogo e o entendimento (Goleman, 1995; Nichols, 1995).

Em estudo que avaliou as relações entre tomada de perspectiva e ativação da raiva, Mohr, Howells, Gerace, Day e Warton (2007) verificaram que a tomada de perspectiva exerce um poder preditivo sobre esta emoção, a qual pode ser inibida pela compreensão acurada dos sentimentos e pensamentos dos outros.

O segundo componente que identifica a empatia é o afetivo, expresso por um interesse genuíno em atender às necessidades da pessoa alvo. Isso se reflete através de uma tendência a experimentar sentimentos de simpatia, de compaixão e de preocupação com o bem estar da outra pessoa .

O componente afetivo da empatia não implica necessariamente em experimentar os mesmos sentimentos da outra pessoa, mas sim em experimentar um entendimento do que é sentido por esta (Falcone, Gil & Ferreira, 2007; Greenberg & Elliott, 1997) ou de experimentar um afeto que está mais voltado para a situação do outro do que para a própria situação (Hoffman, 1992).

O contágio emocional ou a angústia pessoal frente ao sofrimento dos outros compreende reações pré-empáticas, identificadas nas primeiras fases do desenvolvimento humano, que também podem se manifestar na vida adulta. Entretanto, o contágio emocional não é necessário e nem suficiente para a ocorrência da empatia .

Além disso, estudos experimentais confirmam que a empatia e a angústia pessoal são emoções qualitativamente diferentes (Batson, Fultz & Schoenrade, 1992), na medida em que a segunda se refere a sentimentos voltados para as próprias necessidades, seguido de motivação para se afastar da vítima .

Batson (1997) cita uma variedade de pesquisas que sustentam a afirmação de que a preocupação empática evoca motivação altruísta. O altruísmo é compreendido como "a ajuda com intenção de auxiliar outra pessoa sem expectativa de qualquer compensação (senão o bom sentimento resultante)" .

Na literatura clínica, o altruísmo constitui um dos meios mais efetivos de superar sentimentos de inferioridade, promovendo autoconfiança entre os membros de psicoterapia de grupo (Yalom, 1985). Essa afirmação é concordante com as conclusões de Canale e Beckley (1999), ao revisarem estudos que indicam melhora mais rápida e duradoura em pacientes crônicos que estão em terapia de grupo dirigida aos outros (altruísta).

Os efeitos positivos gerados por ação altruísta também são confirmados por Moll e colaboradores , os quais propõem que os seres humanos costumam sacrificar benefícios materiais para apoiar ou se opor a causas sociais e que os efeitos neurobiológicos referentes à satisfação de doar são os mesmos ocasionados pela aquisição de uma gratificação.

Entretanto, a motivação altruísta não necessariamente leva ao comportamento de ajuda. Batson afirma que, em uma situação de necessidade geradora de motivação altruísta, a avaliação de custos e benefícios está envolvida na decisão de ajudar. Para o autor, essas considerações não descaracterizam a intenção altruísta ativada pela preocupação empática.

O componente comportamental (verbal e não verbal) da empatia torna-se fundamental para que a outra pessoa se sinta verdadeiramente compreendida . Burleson se refere a essa habilidade como uma estratégia sensível de consolar. Através da expressão empática, é possível inferir a acuidade da percepção do indivíduo que empatiza .

Burleson afirma que algumas pessoas empregam estratégias altamente sensíveis de conforto verbal, que legitimam e elaboram os sentimentos da outra pessoa, enquanto outras utilizam estratégias menos sensíveis, que tendem a desvalorizar a legitimidade e o significado dos sentimentos do outro.

As estratégias de consolo mais sofisticadas e empáticas propostas por Burleson (1985) tentam explicar os sentimentos e perspectivas da outra pessoa sem julgar; aceitam e legitimam o sentimento do outro, bem como o ponto de vista deste, ajudando-o a entender e encontrar uma explicação para os próprios sentimentos.

As estratégias de consolo menos sofisticadas ou não empáticas focalizam-se no evento em si; impõem o próprio ponto de vista, desconsiderando ou ignorando os sentimentos e a perspectiva da outra pessoa; tentam minimizar o problema e/ou estão mais centradas em dizer ao outro o que fazer ou como se sentir.

A partir da consideração da empatia como um construto multidimensional, é essencial que os três componentes: cognitivo, afetivo e comportamental estejam presentes para um completo entendimento do que vem a ser a empatia.

Assim, compartilhar emoções (componente afetivo) sem a tomada de perspectiva e processos regulatórios envolvidos (componente cognitivo), toma a forma de um contágio emocional ou simpatia.

Da mesma maneira, perceber de forma acurada os pensamentos e sentimentos de alguém, sem experimentar compaixão e interesse pelo bem estar deste, não traduz manifestação empática.

Indivíduos com transtorno de personalidade anti-social, por exemplo, são capazes de perceber as intenções dos outros, porém não levam em consideração o conteúdo emocional envolvido, podendo tirar vantagens disso.

Finalmente, compreender os sentimentos e pensamentos dos outros, além de compartilhar emoções, requer a capacidade de expressar esse entendimento de forma sensível (por ex., não fazer julgamentos, validando os sentimentos da outra pessoa etc.) (Falcone, 1998).

Com base em um modelo multidimensional, propõe-se neste estudo que a empatia corresponde à capacidade de compreender, de forma acurada, bem como de compartilhar ou considerar sentimentos, necessidades e perspectivas de alguém, expressando este entendimento de tal maneira que a outra pessoa se sinta compreendida e validada.

Esta definição considera a empatia como uma habilidade social que distingue as espécies humanas e não humanas, na medida em que somente nas primeiras são identificados aspectos tais como tomada de perspectiva, autoconsciência, consciência do outro, flexibilidade, reavaliação da emoção , além de expressão verbal e não verbal de entendimento .

Vários estudos têm apontado os efeitos positivos da empatia, dentre os quais se incluem: redução de problemas emocionais e psicossomáticos em amigos e familiares (Burleson, 1985); efeitos interpessoais mais positivos do que a auto-revelação (Brems, Fromme & Johnson, 1992); ajustamento e satisfação conjugal (Davis & Oathout, 1987; Ickes & Simpson, 1997; Long & Andrews, 1990), além de redução do conflito social e do rompimento de relações íntimas .

Por outro lado, deficiências na capacidade empática geram prejuízos em vários contextos sociais, além de levar o indivíduo, em casos extremos, a viver à margem da sociedade (Goleman, 1995).

Estudos citados por Pavarino, Del Prette e Del Prette apontam que as deficiências em empatia estão associadas a distorções na percepção, assim como problemas de regulação e autocontrole emocional, favorecendo o comportamento agressivo.

Outros estudos (Davis, 1983b; Davis & Kraus, 1997) revelam que a ansiedade elevada e o estilo cognitivo disfuncional associado ao egocentrismo também interferem com a capacidade de compreender o estado interno dos outros.

Ausência de empatia também tem sido identificada em transtornos de personalidade, tais como os transtornos: anti-social (Beck & Freeman, 1993; Beck, Freeman & Davis, 2005; Chandler & Moran, 1990; Decety & Jackson, 2004; Frey, Hirschtein & Guzzo, 2000); narcisista (Beck & Freeman, 1993; Beck & cols., 2005; Caballo, 1998) e paranóide (Beck & Freeman, 1993; Beck & cols., 2005).

Cabe ressaltar, ainda, que a empatia se diferencia de outras habilidades sociais, como por exemplo, a assertividade, definida como a "capacidade de defender os próprios direitos e de expressar pensamentos, sentimentos e crenças de forma honesta, direta e apropriada, sem violar os direitos da outra pessoa" (Lange & Jakubowski, 1976, p.7).

Nesse sentido, em muitos dos contextos sociais que envolvem capacidades assertivas para iniciar e manter conversação, recusar um pedido, solicitar mudança de comportamento etc., a compreensão e a expressão empáticas, ocorridas antes do comportamento assertivo, tendem a favorecer mais a comunicação do que a manifestação puramente assertiva .

Em síntese, os dados anteriores indicam um consenso de que a empatia exerce influência sobre o bem-estar individual e social, constituindo, portanto, um tema importante a ser explorado. Essa importância, como afirma Ickes (1997), faz com que ela mereça se tornar um foco especial de pesquisa psicológica.

Dentre os vários métodos de avaliação da empatia, as medidas de auto-relato têm sido indicadas como mais fáceis de utilizar, uma vez que podem ser aplicadas em grandes amostras e avaliadas rapidamente .

Além disso, elas identificam deficiências e capacidades do respondente em seu desempenho e na dimensão cognitivo-afetiva desse desempenho .

Embora o autodesconhecimento ou a tendência a querer se apresentar de forma mais positiva possa gerar um viés nos resultados de uma medida de auto-relato, Caballo (1993) observou que instrumentos de auto-informe das habilidades sociais avaliados em seu estudo refletiram uma boa medida da habilidade "real" do sujeito em situações sociais diárias, constituindo, algumas vezes, "a única fonte que podemos dispor para avaliar o grau de habilidade social de uma pessoa" .

Uma medida designada para avaliar a empatia emocional foi construída por Mehrabian e Epstein (1972).

A escala possui sete subescalas que significam:

1) susceptibilidade ao contágio emocional;
2) apreciação dos sentimentos de pessoas distantes e não familiares;
3) extrema responsividade emocional;
4) tendência a ser movido por experiências emocionais positivas dos outros;
5) tendência a ser movido por experiências emocionais negativas dos outros;
6) tendência simpática e
7) disponibilidade para estar em contato com os outros que estão com problemas .

Uma limitação da escala de empatia emocional é que esta contém alguns itens que avaliam aspectos cognitivos ("Eu não consigo ser facilmente empático com as expectativas e aspirações de pessoas estranhas", ou "Eu me emociono facilmente com a letra de uma canção romântica"), em vez de estritamente emocionais, como pretendem os seus autores (Lawrence, Shaw, Baker, Baron-Cohen & David, 2004, p. 912).

Hogan (1969) desenvolveu uma escala que avalia a empatia como uma apreensão cognitiva das condições ou estado mental de outra pessoa (tomada de perspectiva). Constituída de 64 itens, a escala mostrou-se correlacionada ao comportamento moral, ao comportamento socialmente apropriado e a medidas de personalidade. As críticas à escala de Hogan (1969) referem-se à constatação de que esta avalia mais a autoconfiança, o temperamento e a assertividade do que a empatia em si (Lawrence & cols., 2004).

Davis (1980) construiu uma escala de empatia, a Interpersonal Reactivity Scale (IRI-Davis), constituída de quatro subescalas que avaliam:

(1)Perspective Taking (correspondendo ao componente cognitivo da empatia);
2) Empathic Concern (referente a sentimentos de calor, compaixão e de preocupação com o outro);
3) Fantasy (referindo-se à tendência para se identificar com personagens fictícios) e
4) Personal Distress (caracterizada por reações negativas auto-orientadas frente às experiências negativas de alguém).

A IRI-Davis foi adaptada e validada no Brasil por por Koller, Camino e Ribeiro (2001), com o nome em português de Escala Multidimensional de Reatividade Interpessoal de Davis (EMRI). Na versão brasileira a subescala de Fantasy foi abandonada, por ser baseada em aspectos culturais (Koller & cols., 2001).

Embora os construtos da IRI-Davis tenham sido confirmados em outros estudos (Carey, Fox & Spraggins, 1998; Coman, Evans & Stanley, 1988), as subescalas de Fantasy e de Personal Distress têm sido questionadas por não refletirem claramente o conceito de empatia (Lawrence & cols. 2004).

Uma medida recente construída por Baron-Cohen e Wheelwright (Lawrence & cols., 2004) chamada de Empathy Quotient (EQ) foi designada para aplicação clínica e para ser sensível à ausência de empatia, identificada como um aspecto da psicopatologia, encontrada na psicopatia, nos transtornos do espectro autista ou em casos de despersonalização (Lawrence & cols., 2004).

Constituída de 60 itens, o instrumento apresenta três subescalas, que avaliam:

1) Cognitive Empathy (que se refere à apreciação dos estados afetivos dos outros); 2) Emotional Reactivity (que expressa reação emocional às necessidades dos outros); 3) Social Skill (que identifica entendimento social e adoção de regras sociais).

Limitações identificadas no EQ incluem:

1) não está claro se os itens da subescala Emotional Reactivity se relacionam ao componente afetivo da empatia ou se refletem um estado auto-orientado;
2) A subescala de Cognitive Empathy também inclui itens relativos a estados afetivos, o que explica porque esta não tenha se mostrado associada com a subescala de tomada de perspectiva do IRI-Davis (Lawrence & cols., 2004).

Diante das lacunas encontradas nas medidas anteriores, justifica-se a construção e avaliação preliminar de uma medida brasileira que avalie a empatia de acordo com um modelo multidimensional, tal como apresentado neste estudo.


Método

Participantes

Participaram do estudo 715 estudantes de graduação de uma instituição pública situada na cidade do Rio de Janeiro, com idade média de 23,09 (D.P. 5,70). Destes, 59% pertenciam ao sexo feminino e 41% ao sexo masculino. A amostra incluiu respondentes das áreas: humana (28%); biomédica (23%); ciências sociais (22%) e exatas (27%). Dentre os participantes, 64% estavam no início do curso, 29% em fase intermediária e 7% em fase final. A Tabela 1 apresenta os dados de caracterização da amostra.

Elaboração e características do instrumento

Os itens do Inventário de Empatia (IE), na sua versão inicial, foram construídos com base em uma revisão da literatura (Bedell & Lennox, 1997; Bellack, 1997; Caballo, 1993; Davis, 1980; Del Prette & Del Prette, 1998; Hogan, 1969; Ickes, 1997; Levenson & Gottman, 1978; Mehrabian & Epstein, 1972; Thompson, 1992), a partir da qual foram identificadas 16 situações sociais e habilidades empáticas implicadas nestas situações.

A partir desta revisão, foram elaborados 74 itens, baseados nos componentes cognitivos, afetivos e comportamentais da empatia, tal como apresentados anteriormente, que identificassem esse construto nas 16 situações de interações sociais descritas a seguir: 1) iniciar conversação (2 itens); 2) manter conversação (5 itens); 3) encerrar conversação (2 itens);
4) fazer pedido sem conflito de interesse (4 itens); 5) fazer pedido com conflito de interesse (6 itens); 6) pedir mudança de comportamento (7 itens); 7) recusar pedido (4 itens); 8) responder a críticas (9 itens); 9) expressar opiniões pessoais (7 itens); 10) conversar com alguém que está revelando um problema (6 itens); 11) fazer perguntas (4 itens); 12) fazer cumprimento (3 itens); 13) cobrar dívida (5 itens); 14) terminar relacionamento (4 itens); 15) expressar sentimentos negativos (3 itens); 16) expressar sentimentos positivos (3 itens).

A construção dos itens do IE foi feita obedecendo-se aos critérios de clareza, ortografia, abrangência de contextos, demandas e interlocutores. Quando havia dúvidas sobre a clareza ou adequação de um item, este era testado de maneira informal (por exemplo, fazendo-se a pergunta a alunos da universidade).

As respostas de cada item foram numeradas de 1 a 5, em uma escala do tipo Likert, de acordo com as freqüências dos comportamentos descritos, variando desde nunca (1) até sempre (5). Itens com freqüência elevada tendem na direção do conceito de empatia. Itens reversos, nos quais a alta freqüência do comportamento tendia a ser considerado como não empático devem ter a sua pontuação invertida para a obtenção do escore.

Procedimento de coleta de dados

A realização da pesquisa ocorreu após a sua aprovação junto ao Comitê de Ética em Pesquisa da mesma instituição dos participantes. A aplicação do IE foi feita de forma coletiva, em sala de aula. Os objetivos da pesquisa foram apresentados pelos aplicadores, assim como uma explicação prévia de como responder ao inventário. Embora sem limite de tempo pré-estabelecido, o instrumento foi respondido, em média, em 30 minutos.

Análise dos dados

Foram adotados os procedimentos de análise fatorial exploratória, coerentes com recomendações de Gorsuch (1983), Kline (1994) e Pedhazur e Schmelkin (1991). De acordo com essas recomendações, as matrizes de intercorrelações entre os itens da escala foram submetidos à análise dos componentes principais. Posteriormente, para a obtenção do cálculo do índice de precisão ou consistência interna de cada fator, foi utilizado o coeficiente Alfa de Cronbach.



Resultados

Uma primeira análise dos componentes principais dos 74 itens do instrumento revelou a presença de 18 fatores com eigenvalues (valores críticos) maiores que 1, responsáveis por 54,7% da variância do instrumento. O teste gráfico revelou, contudo, um número de três a seis fatores interpretáveis. Nesse sentido, foram realizadas, na seqüencia, análises dos componentes principais com soluções antecipadas de 3 a 6 fatores e rotação oblíqua (Oblimin), tendo-se verificado que a solução de quatro fatores foi a que forneceu a melhor representação da estrutura interna da escala. Tais fatores foram responsáveis por 37,3% da variância total do conjunto de itens do IE. Neles foram retidos os itens que apresentaram cargas fatoriais iguais ou superiores a 0,30 em um único fator e congruência semântica com os demais itens do fator.

O primeiro fator, denominado de Tomada de Perspectiva (TP), obteve valor crítico de 6,5 e foi responsável por 16,5% da variância. O conteúdo de seus 12 itens refere-se à capacidade de entender a perspectiva e os sentimentos da outra pessoa, mesmo em situações que envolvam conflito de interesses, as quais demandam esforço para compreender as razões do outro antes de expressar as próprias perspectivas. Um escore baixo neste fator denota uma dificuldade para compreender as perspectivas e sentimentos da outra pessoa, especialmente em situações de conflito de interesses.

O valor crítico do segundo fator, chamado de Flexibilidade Interpessoal (FI), foi de 4,1, sendo este responsável por 10,3% da variância. Composto por 10 itens, este fator expressa a capacidade para tolerar comportamentos, atitudes e pensamentos dos outros, os quais são muito diferentes ou provocadores de frustração. Um escore baixo neste fator indica dificuldade em aceitar pontos de vista diferentes e tendência a se aborrecer facilmente em situações de conflito de interesses ou de frustração interpessoal.

O terceiro fator, composto de nove itens, denominado de Altruísmo (Al), obteve valor crítico de 2,4 e foi responsável por 6,2% da variância. Reflete capacidade para sacrificar os próprios interesses com a finalidade de beneficiar ou ajudar alguém. Um escore baixo neste fator revela tendência egoísta.

O quarto fator, a Sensibilidade Afetiva (SA), é composto de nove itens, com valor crítico de 1,7 e responsável por 4,3% da variância. Reflete sentimentos de compaixão e de interesse pelo estado emocional do outro. Um escore baixo na Sensibilidade Afetiva reflete pouca atenção ou cuidado em relação às necessidades dos outros. A Tabela 2 apresenta os itens do IE, agrupados nos quatro fatores e suas cargas fatoriais.



A versão final do IE compôs-se de 40 itens, distribuídos em quatro fatores. Os coeficientes Alfa de Cronbach foram de 0,85 (primeiro fator), 0,78 (segundo fator), 0,75 (terceiro fator) e 0,72 (quarto fator). Dos 40 itens, 17 são reversos, indicando que as respostas a esses itens devem ser invertidas para a obtenção do escore final.

Assim, se a resposta dada for 5, deve-se trocar para 1 ou vice-versa; se for 4, deve-se trocar para 2 ou vice versa. Finalmente, se a resposta for 3, esta deve ser mantida. Os 17 itens reversos da versão final do IE incluem: 3, 4, 5, 8, 9, 13, 16, 19, 20, 22, 24, 26, 30 32, 35, 38 e 40.



Discussão

A análise preliminar do IE indica que este instrumento apresentou bons resultados psicométricos referentes a sua validade de construto, através de análise fatorial exploratória. Considerando-se os critérios de Nunnally (1978), que indicam como satisfatório um índice de precisão maior ou igual a 0,70, pode-se afirmar que todos os fatores do IE apresentam índices de precisão satisfatórios.

As quatro subescalas do IE representam as características multidimensionais do construto empatia. Além dos itens referentes à subescala de Tomada de Perspectiva (TP), que correspondem ao componente cognitivo da empatia, tal como mencionado anteriormente (Davis, 1980; Eisenberg & cols., 1997; Ickes, 1997; Long & Andrews, 1990), os itens da subescala de Flexibilidade Interpessoal (FI) medem um aspecto importante envolvido na tomada de perspectiva, conforme estudos revisados por Decety e Jackson (2004).

A subescala de Sensibilidade Afetiva (SA), por sua vez, representa o componente afetivo da empatia, avaliando, por meio de seus itens, a preocupação ou consideração pelas necessidades dos outros e uma tendência a agir em conformidade com essas necessidades (Mehrabian & Epstein, 1972; Thompson, 1992). A subescala de Altruísmo (Al), também relacionada ao componente afetivo da empatia, contempla estudos mencionados na literatura (Batson, 1997; Moll & cols., 2006).

Assim, todos os fatores do IE representam claramente os componentes envolvidos no construto empatia (cognitivos e afetivos), o que não ocorre com os instrumentos apresentados anteriormente. Enquanto a medida de Mehrabian e Epstein (1972) se propõe avaliar apenas o componente afetivo da empatia, a de Hogan (1969) mede somente o seu componente cognitivo.

A subescala de Personal Distress da Escala Multidimensional de Reatividade Interpessoal de Davis (EMRI), validada por Koller e colaboradores (2001), que é identificada por sentimentos de angústia e desconforto frente ao sofrimento dos outros, levando a atitudes egocêntricas de abandono da situação, não constitui manifestação empática (Batson & cols., 1992; Davis, 1980, 1983a, 1983b; Lawrence & cols., 2004; Lennon & Eisenberg, 1992). Com relação aos itens referentes às subescalas de Emotional Reactivity e de Social Skill da medida Empathy Quocient (EQ) (Laurence & cols., 2004), não está claro se estes medem a empatia em si.

Verifica-se, no IE, que os seus itens reversos se localizaram nos fatores FI (que contém todos os itens reversos) e no fator Al, (dois itens são diretos e sete são reversos). Por outro lado, todos os itens dos fatores TP e SE são diretos. Uma vez que a freqüência elevada do instrumento tende para o construto empatia, o significado desses fatores deveria ser oposto à forma como se apresentavam nos itens, justificando os nomes dados aos mesmos.

Vale mencionar, ainda, que os itens que revelam manifestação puramente assertiva (por exemplo, "Se decidir recusar um pedido, vou direto ao ponto"), são considerados como reversos no IE, uma vez que expressam ausência de interesse em levar em consideração as necessidades do outro.

Outros itens do IE (por exemplo, "Antes de expressar minhas opiniões em uma conversa, procuro compreender as opiniões de outra pessoa, especialmente quando estas são diferentes das minhas"), apesar de se assemelharem à assertividade, avaliam, na realidade, a capacidade e a motivação para adotar e considerar a perspectiva da outra pessoa (tomada de perspectiva) e não a expressão assertiva de opinião ou desejo.

Em resumo, os itens do IE medem exclusivamente os componentes cognitivos, afetivos e comportamentais da empatia, o que diferencia esta escala de outras medidas de habilidades sociais, tais como o Inventário de Habilidades Sociais (IHS) (Del Prette & Del Prette, 2001).

As 16 situações previamente utilizadas como contextos sociais para a elaboração dos itens não se localizaram nos fatores. Em vez disso, os itens agrupados nos quatro fatores revelaram, em seu conjunto, componentes da empatia. Tais resultados confirmam o fato de que os itens foram elaborados com base nos componentes cognitivos, afetivos e comportamentais da empatia e que as 16 situações sociais serviram apenas como contextos nos quais a compreensão e a expressão empáticas poderiam se manifestar.

Concluindo, uma vez que a quantidade de medidas de auto-informe que avaliam o construto empatia é escassa, e que o IE constitui uma medida brasileira, além de seus fatores apresentarem boa consistência interna, recomenda-se a sua utilização em pesquisas acadêmicas que visem avaliar a empatia em diferentes grupos e contextos sociais. Recomenda-se também a sua utilização na clínica, como um instrumento auxiliar, para avaliar deficiências em empatia relacionadas a transtornos psicológicos.

Seria interessante, ainda, que investigações futuras procurassem aprofundar a verificação das características psicométricas do instrumento, mediante a utilização de procedimentos de análises fatoriais confirmatórias e do exame de sua validade convergente e discriminante. Tais pesquisas indubitavelmente poderão contribuir para o aprimoramento do instrumento, bem como para o incremento de sua capacidade diagnóstica.



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Endereço para correspondência
E-mails: elianefalcone@oi.com.br

Recebido em Maio de 2008
Reformulado em Setembro de 2008
Aceito em Novembro de 2008





Sobre os autores:

* Eliane Mary de Oliveira Falcone: Psicóloga clínica. Docente da graduação e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pós-doutoranda do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de São Paulo (USP).

** Maria Cristina Ferreira: Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia, Professora Titular e Coordenadora do Mestrado em Psicologia da Universidade Salgado de Oliveira.

*** Renato Curty Monteiro da Luz: Psicólogo clínico. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

**** Conceição Santos Fernandes: Psicóloga clínica. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

***** Camila de Assis Faria: Neuropsicóloga. Mestranda do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

****** Juliana Furtado D'Augustin: Psicóloga clínica. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

******* Aline Sardinha: Psicóloga Clínica. Mestranda do Laboratório de Pânico e Respiração do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Saúde Mental do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ).

******** Vanessa Dordron de Pinho: Psicóloga clínica. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Apoio: FAPERJ e Instituto de Psicologia - UERJ
Empatia; A emoção que veio para ficar

Há algumas semanas recebi um pedido por telefone para uma conversa sobre empatia.

Meu interlocutor era um jornalista que desejava fazer uma matéria a respeito. Ao mesmo tempo, explicou que era candidato a uma vaga de repórter em um grande jornal. Ele queria aproveitar para fazer uma ótima impressão na entrevista de seleção.

Combinamos que ele viria no dia seguinte ao meu escritório. Antes, orientei-o para ler a matéria de Veja sobre a maior absorção de mulheres grávidas pelo mercado de trabalho . "Mas o que tem isso a ver com empatia?", perguntou o repórter ansioso.

Naquela hora, eu não teria muita chance de convencê-lo sobre a primeira tacada anti-empática que ele acabara de dar; preferi responder que a matéria iria transformar o conteúdo do nosso encontro.

Ele fez o tema de casa. No dia seguinte, falou de Ana Cristina Dutra com sorriso largo. "Mas que sorte a dela", disse, sublinhando que, encerrado o mestrado no Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, no Rio de Janeiro, ela engravidara. Grávida, conseguira o emprego da Repsol YPF, um grupo espanhol do setor de petróleo. Sim, o empregador o sabia, e quis que a vaga fosse dela.

Contei ao jovem repórter o caso de Maristela, gaúcha pós-graduada em marketing que compareceu à entrevista para a qual fora selecionada, tendo antes detalhado estar grávida de três meses. Perguntada porque queria o emprego, ela disse: "o produto da empresa tem a minha cara. Sei tudo sobre ele e posso fazer muito para alavancá-lo no mercado".

Na semana seguinte, o diretor da empresa lhe comunicou que a vaga não era dela. O consultor de recursos humanos, que prestava assessoria na área de contratações, argumentou que admitir uma pessoa pouco antes da licença-maternidade não era sensato. Além disso, julgou que a moça mostrava excesso de autoconfiança ao espelhar-se no produto da empresa.

"Não é por você estar grávida", disse-lhe o empresário. "E quer um conselho? Nunca diga que o produto da empresa tem a sua cara. Indica excesso de confiança."

O jornalista escutava com atenção enquanto eu explicava que a base da empatia está na confiança em si mesmo. Só somos capazes de identificar que determinado produto ou serviço tem a nossa cara depois de cuidadoso processo que envolve milhões de neurônios cerebrais. Primeiro, eles precisam concluir que a rede interna que processa a auto-imagem estabelece um match preciso com a imagem do produto ou serviço.

Esse pareamento bem-sucedido não vai acontecer mais do que umas poucas dezenas de vezes durante a vida. Por isso, ter algo de uma empresa, estrutura ou instituição "na cara" é uma preciosidade.

Logo depois, ainda grávida, Maristela conseguiu emprego em uma multinacional. Seria coordenadora sênior da área de marketing. Ao dar-lhe a notícia, o chefe de recursos humanos salientou: "Parabéns. Achamos que você tem a cara do nosso produto e vai realizar um excelente trabalho para alavancá-lo no mercado".

Expliquei ao repórter que decisões desse tipo muitas vezes decorrem da empatia presente no encontro. Ao pressentir que o potencial da candidata grávida quintuplicaria depois da licença-maternidade, a empresa apostava nela. Ao perceber que a empresa a aceitava com o filho por nascer, uma janela se abria em seu coração. Essa é a mágica operada pela empatia.

Empatia tem algo de fortemente biológico. Diferente de como alguns pensam, não se pode encená-la. Empatia significa pensar com os pés dentro dos sapatos do outro. Você concorda que é difícil deixar de perceber a candura e a persistência de uma mulher grávida batalhando por seu emprego?

No caso dela, a progesterona conta a seu favor. E nós, mortais comuns, como fazemos para ter empatia?

O segredo é contar com o coração. Há em todos nós uma linguagem que sai diretamente de dentro do peito. Encenar é com o cérebro; falar com empatia é coisa do coração. É algo parecido com cantar como canta o Martinho da Vila: você não o vê, mas vê seu sorriso em cada linha do refrão.

Um dia teremos que responder porque pleiteamos trabalhar nessa empresa ou naquela instituição. Esse é o momento para estabelecer empatia. O entrevistador conhece todas as frases-chavão. Não há como ser criativo.

Só há uma resposta que ele ainda não ouviu. A sua. Aquela que vem direto do coração, cuja honestidade vai nocauteá-lo. Ela é como sua impressão digital: única e intransferível. Você ganha a entrevista na hora.

Exemplifiquei dizendo que a última coisa que eu soube da Maristela é que o gráfico de vendas do produto da empresa havia batido no teto. Claro, é trabalho de equipe, ela mesma enfatizava isso. Todos nós trabalhamos em equipe.

Meu amigo jornalista, que era arguto, ponderou que ao responder do coração, ela não tinha ganhado o emprego na primeira tentativa. Claro, empatia também precisa de um coração do lado de lá. Mas eles são cada vez mais freqüentes hoje em dia. Não é que emoção no trabalho esteja em alta; ela veio para ficar.

Casualmente, perguntei ao Alceu por que ele queria trabalhar "lá". Acho que ele já sabia que eu ia perguntar isso. Sorrindo de mansinho, olhou-me com seus dentes brancos.

"A primeira matéria de verdade que eu li na vida estava naquele jornal. Foi com base nela que eu escrevi minha redação no vestibular. E me saí bem demais". Desde então, completou, "eu sabia que um dia acabaria por lá".

Senti um breve arrepio junto com seu sorriso e o aperto de mão. Acho que ele havia entendido tudo.

E quanto a você, leitor, a sua resposta já está no coração?

Sentimentos e autoconsciencia no atendimentos

A habilidade no processo de decodificação da informação envolve desenvolver a AUTOCONSCIÊNCIA de si e a CONSCIÊNCIA DO OUTRO.

Ao ser criticado, procure manter um distanciamento da situação de forma a poder identificar os seus sentimentos, pensamentos e comportamentos, bem como os pensamentos, sentimentos e comportamentos da outra pessoa.


1. Fazer um esforço para identificar os sentimentos e a perspectiva da outra pessoa, sem julgar;

2. Considerar e validar os desejos, sentimentos e expectativas do outro;

3. Procurar se colocar no lugar da outra pessoa;

4. Relacionar o contexto, os sentimentos e a perspectiva do outro;

5. Identificar os próprios sentimentos e perspectivas;

6. Avaliar as razões da outra pessoa e as próprias razões.


Ex. Diante de uma crítica, pergunte-se:


1. O que esta pessoa está sentindo para me criticar desta forma?

2. Que tipo de sentimento está por trás dessa crítica (medo, preocupação, ansiedade, etc?)

3. O que ela espera de mim?

4. Se eu estivesse em seu lugar como me sentiria?

5. O que eu estou sentindo?

6. O que espero ao me comportar da maneira como estou me comportando (diante da crítica)?

7. Quais as razões desta pessoa para fazer a crítica?

8. Quais as minhas razões, neste caso?


COMPORTAMENTO VERBAL AO RESPONDER À CRÍTICAS

Referir-se à pessoa pronunciando o seu nome;

Pedir maiores informações sobre o que a pessoa quer dizer (se for o caso);

Fazer uma declaração empática relacionando: situação, perspectiva e sentimentos da outra pessoa.

Após certificar-se de que a pessoa sentiu-se compreendida, declarar os próprios sentimentos e perspectivas ou pedir desculpas, ou perguntar o que fazer para melhorar a situação.

Agradecer no caso de receber uma orientação proveitosa.


POSTURA NÃO-VERBAL AO RESPONDER À CRÍTICAS

1) Olhar para a pessoa;

2) Manter uma postura descontraída e aberta, acolhendo o que o outro tem a dizer;

3) Usar vocalizações (ah, ah,) e acenos de cabeça quanto o outro está falando, mostrando que está entendendo o seu ponto de vista.

4) Falar pausadamente, com volume adequado à distância do interlocutor;

5) Usar gestos que acentuem a expressão verbal;

6) Não interromper a outra pessoa enquanto ela está falando.

7) Não sorrir, se estiver se sentindo injustiçado e nem se estiver se justificando de alguma falha ou por qualquer outro motivo. Se nestas ocasiões você sorri, você desqualifica a importância e a seriedade de sua resposta e de sua defesa; de forma não verbal você estará demonstrando para o outro que não está respeitando você mesmo.

8) Pedir maiores informações sobre o que a pessoa está dizendo.

9) Pedir à pessoa que proponha uma solução para o problema.


OBS: Quanto mais delicada por a situação mais atenção você deve dar à sua voz: ela deve soar calma, suave e no tom ideal.


CRENÇAS DISTORCIDAS QUE ATRAPALHAM AS PESSOAS DE RESPONDEREM A CRÍTICAS

“Estou aborrecendo as pessoas”

“As pessoas vão evitar a minha companhia”

“As pessoas são injustas comigo”

“As pessoas não me respeitam”

“As pessoas não confiam em mim”

“Se eu falho, as pessoas irão me rejeitar”

"As pessoas querem me prejudicar"

“As pessoas pensam que sou incompetente”


RESPONDENDO EFICAZMENTE ÀS CRÍTICAS NO TRABALHO


Ao ser criticado, procure manter a calma. Se for preciso, treine em casa, imaginando possíveis situações em que você pode ser criticado. Pode utilizar um espelho grande e representar a cena para observar seu desempenho.

Olhe nos olhos da pessoa que o está criticando e procure manter a calma e uma postura descontraída. Fale sempre o nome da pessoa, antes de começar sua fala, e também durante a conversa.

Lembre-se de que você não está cometendo nenhum crime e que se cometeu algum erro, foi sem querer. Além disso 99% dos erros podem ser corrigidos. Aliás, não existem ERROS, apenas APRENDIZAGEM.

Procure ouvir a pessoa com atenção, para descobrir se concorda com o que ela está dizendo ou não.

Ao ser criticado, você deve também observar o contexto: quem o está criticando ? Ele tem autoridade para isso ? Ele é o seu chefe ? Ele está sugerindo uma modificação para melhorar o trabalho ou está dando uma ordem que deve ser obedecida apenas porque é o seu chefe ? Além disso, se a ordem for manifestamente ilegal, o subordinado tem o dever legal de se recusar a cumprir. Se a ordem não for ilegal, o subordinado deverá cumpri-la, mas isso não significa que concorda com ela e isso pode ser colocado para o chefe.

Existem várias opções de respostas para você escolher, quando for criticado, como por exemplo:

a) Diga à pessoa o que acha correto:

· QUE BOM QUE VOCÊ ME ALERTOU PARA ISSO (EMPATIA).EU NÃO TINHA PERCEBIDO O IMPACTO DO QUE ESTAVA FAZENDO E AGORA SABEREI AGIR MELHOR DA PRÓXIMA VEZ (ASSERTIVIDADE).

· EU ACHO QUE VOCÊ TEM RAZÃO. (EMPATIA). EU TAMBÉM TENHO PERCEBIDO QUE AS COISAS PODERIAM SER FEITAS DE UMA FORMA MELHOR E PENSO* QUE PODERMOS TROCAR MAIS IDÉIAS DE COMO FAZER ISSO. (ASSERTIVIDADE).

· EU COMPREENDO SUA PREOCUPAÇÃO EM FAZER O MELHOR TRABALHO. (EMPATIA). MAS QUANDO EU FAÇO (...) EU PENSO QUE AS PESSOAS SE SENTEM MAIS RESPEITADAS E COMPREENDIDAS. (ASSERTIVIDADE).

Obs: Use sempre o 'EU PENSO" no lugar de "EU ACHO".

b) Sua resposta pode incluir uma desculpa:

· SINTO MUITO. (EMPATIA). É VERDADE EU NÃO TIVE MUITO TATO (OU EU ESTAVA DISTRAÍDO/PREOCUPADO COM...). ASSERTIVIDADE). Um pedido sincero de desculpas melhora o relacionamento, sobretudo se você realmente deseja agir de outra maneira no futuro.

c) Depois de concordar ou se desculpar, é bom explicar o seu ponto de vista:

· OBRIGADO POR TER SIDO FRANCO COMIGO SOBRE ESSE ASSUNTO QUE ESTÁ PREOCUPANDO VOCÊ. (EMPATIA). NA VERDADE, QUANDO EU FIZ (...) EU QUERIA MOSTRAR QUE AS PESSOAS PODEM CONTAR REALMENTE CONOSCO. EU PENSO QUE ISSO PASSA UMA BOA IMAGEM DE NOSSA EMPRESA/DEPARTAMENTO. (ASSERTIVIDADE).

d) Pergunte o que pode fazer para melhorar a situação:

· ADMIRO SUA PREOCUPAÇÃO COM ISSO. (EMPATIA). O QUE VOCÊ SUGERE PARA MELHORAR ESTE ASPECTO (...PARA ESCLARECER ESTA QUESTÃO) ? (ASSERTIVIDADE). Isso não significa que tenha de seguir o conselho, mas com isso você pode conseguir informações valiosas.

e) Diga à pessoa como vai agir dali para a frente:

· TEM RAZÃO. ACHO (no sentido de considerar) QUE SUA IDÉIA É INTERESSANTE. (EMPATIA). FICAREI ATENTA PARA APLICÁ-LA, DA PRÓXIMA VEZ. (ASSERTIVIDADE).

f) Se não concordar de jeito nenhum com a pessoa, mesmo depois de tê-la ouvido com atenção, pode-lhe dizer isto:

· OBRIGADA POR ME DIZER O QUE PENSA. (EMPATIA). MAS EU PENSO QUE .... (ASSERTIVIDADE).

· RESPEITO SUA OPINIÃO. (EMPATIA). MAS PENSO DE MODO DIFERENTE E COM CERTEZA CADA UM DE NÓS TEM DIREITO DE AGIR DA MANEIRA QUE ACHA MELHOR. NÃO É POR ISSO QUE VAMOS BRIGAR! (ASSERTIVIDADE).

· ENTENDO SEU PONTO DE VISTA E PENSO QUE VOCÊ TEM MOTIVOS IMPORTANTES PARA PENSAR ASSIM (EMPATIA) MAS EU PENSO DE MODO DIFERENTE (diga qual) E ISSO NÃO SIGNIFICA QUE NENHUM ESTÁ CERTO OU ERRADO, APENAS PENSAMOS DIFERENTE! (ASSERTIVIDADE).

g) Pode acontecer que você ache o ponto de vista da outra pessoa tão diferente do seu que não vale a pena conversar:

· BEM, FULANO, COMO TEMOS OPINIÕES MUITO DIFERENTES (EMPATIA). NÃO ACHO QUE VALHA A PENA CONTINUARMOS ESSA CONVERSA; PARECE QUE NÃO CHEGAREMOS A LUGAR NENHUM. ASSIM É MELHOR CADA UM GUARDAR COM SUA PRÓPRIA OPINIÃO (ASSERTIVIDADE).

h) E se for o chefe?

· COMPREENDO SUA POSIÇÃO COM RELAÇÃO A... (EMPATIA). COMO DEVO FAZER PARA MELHORAR (O TRABALHO, RELATÓRIO, ETC?) (ASSERTIVIDADE).

· NOTO QUE VOCÊ ESTÁ PREOCUPADO COM... E GOSTARIA DE AJUDAR (EMPATIA) MAS O QUE, ESPECIFICAMENTE, VOCÊ GOSTARIA QUE FOSSE MODIFICADO? (ASSERTIVIDADE).

i) E se a pessoa a critica na frente de outras pessoas? Inicialmente você pode deixar para falar com ela depois, a sós. Depois você vai aprender a responder na hora que o fato acontecer.

· ACHO QUE VOCÊ TEM RAZÃO QUANDO DIZ... (se realmente concordar com isso) (EMPATIA). MAS, EU FICO MUITO CONSTRAGIDO QUANDO VOCÊ ME CRITICA NA FRENTE DOS CLIENTES. ALÉM DO MAIS PENSO QUE ISSO TRANSMITE PARA O CLIENTE, UMA IDÉIA DE DESORGANIZAÇÃO DE NOSSA EMPRESA. DA PRÓXIMA VEZ, FALE COMIGO EM PARTICULAR E TENTAREMOS RESOLVER O PROBLEMA (ASSERTIVIDADE).

· COMPREENDO SUA PREOCUPAÇÃO EM DESENVOLVER UM TRABALHO MELHOR (EMPATIA). EU TAMBÉM QUERO ISSO, MAS EU DISCORDO DE VOCÊ QUANDO DIZ (...) EU PENSO QUE (...).(ASSERTIVIDADE).
Empatia

Definimos empatia como habilidade de perceber as reações de outra pessoa. É a habilidade de perceber informações sutis e informações fornecidas por outros, de maneira a identificar com exatidão o que estão sentindo e pensando.

Empatia não necessariamente envolve concordar com os sentimentos das outras pessoas, mas certamente envolve compreender quais são seus sentimentos e idéias.

Empatia não é simpatia. Perde-se a objetividade na simpatia. Se você se identifica e sente as emoções dos outros, não pode mais vê-los de uma maneira desapaixonada e objetiva.

Por exemplo, para vender, um profissional precisa compreender como um cliente potencial está sentindo, ao mesmo tempo que mantém o foco em seus próprios objetivos e metas.

De maneira a compreender como funciona a empatia, é importante perceber que a empatia funcional está relacionada inteiramente à motivação. Ninguém de fato sabe se as pessoas nascem com capacidade empática diferenciada, ou se realmente não são empáticas.

O que sabemos, é que do ponto de vista comportamental, as pessoas variam enormemente em sua habilidade de fazer uso funcional de sua empatia. A questão principal que queremos enfatizar é que se existe ou não uma capacidade empática intrínseca num indivíduo, o fator principal está relacionado com a motivação individual para usar a empatia.

Existem muitas pessoas que optam por agir superficialmente. Lidam com aquilo que é tangível e que está em sua frente e não estão interessadas em explorar o que pode estar por trás de uma afirmação ou de uma ação. Investem muito pouco de sua energia pensando acerca das motivações ou necessidades dos outros. Podem colocar-se disponíveis quando alguém precisa de ajuda, especialmente ajuda física.

Se alguém cai e se machuca, respondem a esse fato, mas é muito pouco provável que identifiquem a dor psíquica que o outro possa estar experimentando. Colocando de outra forma, essas pessoas não pensam em "ler" os outros e não tem a motivação para isso.

Existem também as pessoas que podem ser extraordinariamente inteligentes e que até possuem alguma motivação para compreender os outros. Entretanto, são tão rígidas que usam sua inteligência para defender seus próprios conceitos e valores.

Do outro lado da moeda, estão aqueles indivíduos que são, de fato, motivados para "ler" e compreender os outros. Vão além da superfície e estão constantemente examinando situações e pessoas.

É possível comparar esses 3 grupos com possuir um amplificador de alta fidelidade. O primeiro grupo de pessoas nem se incomoda em comprar um.

O segundo grupo pode possuir um bom amplificador, porém não o coloca para funcionar.

O terceiro grupo liga o amplificador e procura garantir que funciona em toda a sua capacidade.

Em vendas, empatia é de importância crucial para o sucesso. Vendedores precisam ser suficientemente empáticos para ajustar suas apresentações e suas abordagens. Empatia é necessária para identificar as necessidades reais de um cliente potencial e então procurar garantir que essas necessidades são atendidas através do produto ou do serviço que está sendo vendido.

Em liderança, empatia é essencial do ponto de vista de ser sensível às necessidades e habilidades da equipe. Liderar é ter habilidade para garantir que o trabalho é feito, maximizando os talentos e o potencial de cada um. É dirigir-se à cada pessoa de forma personalizada.

Empatia é um componente vital da comunicação e faz com que seja possível receber mensagens e compreendê-las corretamente. A habilidade de escutar atenta e objetivamente outras pessoas e modificar abordagens em função daquilo que é identificado, define, em grande medida, a presença ou não da empatia.

Quando a empatia não está presente, a conversa é, na realidade, vários monólogos alternados; o vendedor fala com o cliente, o gerente fala com subordinados, mas nenhuma comunicação real acontece!!!!
Empatia: uma atitude naturalmente sábia e compassiva

O desenvolvimento da espiritualidade nos lança em direção ao mundo: nos torna cada vez mais empáticos com os outros. Para que isto se torne realidade, precisamos inicialmente incluir em nossas atividades cotidianas uma atitude empática para conosco mesmos.

Ser empático é algo natural no ser humano: quando vemos alguém sofrendo surge espontaneamente em nós o desejo de ajudar, simplesmente porque nesses momentos reconhecemos no outro alguém como nós e nos identificamos com ele.

A palavra empatia origina-se do termo grego empátheia, que significa entrar no sentimento. Portanto, a primeira condição para sermos empáticos é sermos receptivos aos outros e simultaneamente à nossa totalidade interior.

Isto significa estar disposto a conhecer tanto os outros como a si mesmo. A empatia nos ajuda a nos libertar dos nossos padrões rígidos e repetitivos.

Segundo Robert Sardello, precisamos passar por três fases distintas para desenvolver a empatia. O primeiro aspecto dessa atividade consiste em voltarmos conscientemente a nossa atenção para uma outra pessoa em uma atitude de abertura.

Estendemos parte de nosso ser para além de seus limites usuais, ficamos interessados na existência e no destino da outra pessoa – mas não por curiosidade, aventura, criticismo, interesse pessoal ou poder. Para tanto, temos antes que deixar escoar os nossos pensamentos habituais sobre ela e nos permitir senti-la de um modo mais direto e intuitivo.

Uma vez que abandonamos nossas idéias preconcebidas sobre aquela pessoa e nos encontramos sintonizados com ela, podemos passar para a próxima etapa: Você se move em direção a sentir as qualidades interiores da outra pessoa sem saber ou precisar saber quais são elas, exatamente como uma criança que, antes de formar conceitos sobre o mundo, está aberta às suas impressões imediatas e qualidades interiores.

Neste processo, entretanto, nem por um instante perdemos o senso de nós mesmos. O exercício não é uma fusão com a outra pessoa.

A idéia é derrubar as barreiras que nos impedem de fazer um contato mais direto e espontâneo com o outro sem nos confundirmos com ele; portanto, a terceira fase consiste em retornar à parte de nós mesmos deixada para trás enquanto encontrávamos a outra pessoa.

Um eco daquilo que experimentamos enquanto residíamos no interior da outra pessoa permanece, e agora essa ressonância vive em nós como uma imagem da alma. Tal imagem pode gradualmente ser trazida ao entendimento através da contemplação.

Este exercício nos aproxima dos outros, e nos ajuda a reconhecer as diferenças e os pontos que nos unem. Empatia não quer dizer tornar-se similar ao outro. Muito pelo contrário: ela surge à medida em que nos tornamos receptivos às diferenças. Compreender o outro em sua particularidade é fundamental.

Formar parcerias torna-nos cada vez mais empáticos, pois estreitar nossos relacionamentos ajuda-nos a nos desapegarmos da visão autocentrada que gera ansiedade e solidão.

É como escreve Márcia Mattos: O fato de o outro existir junto comigo – de estar ao meu lado e de se dispor a fazer coisas comigo – me inspira a despertar qualidades que estavam inconscientes em mim.

Toda personalidade se enriquece com isso. [...] Há uma poderosa química que o outro exerce sobre nós, produzindo efeitos e aflorando virtudes das quais nós sozinhos seríamos incapazes de nos apropriar.

O delicado equilíbrio entre as minhas, as suas e as nossas necessidades

Em geral, temos o hábito de olhar apenas para nossas necessidades, mesmo quando pensamos ser generosos. Esta é a razão por que é tão difícil ajudar os outros: temos dificuldade de percebê-los nas suas necessidades. Desta maneira, acabamos por criar vínculos desequilibrados e neuróticos, baseados na co-dependência.

Co-dependente é uma pessoa que tem deixado o comportamento de outra pessoa afetá-la, e é obcecada em controlar o comportamento dessa outra pessoa. Quando dizemos sim, mas na realidade queremos dizer não, quando fazemos coisas que não queremos realmente fazer, ou fazemos o que cabia aos outros fazerem, estamos sendo co-dependentes e não pacientes e nem mesmo generosos!

Uma atitude co-dependente pode parecer positiva, mas, na realidade, está gerando baixa auto-estima e falta de confiança.

Em outras palavras, se ao nos dedicarmos aos outros estivermos nos abandonando, mais à frente teremos de nos confrontar com as conseqüências de nossa atitude ignorante.

Reconhecer nossos limites e necessidades é tão saudável quanto a motivação de querer superá-los.

Sentir a dor do outro não quer dizer ter que repará-la. Este é nosso grande desafio: sentir a dor com o intuito de simplesmente nos aproximarmos dela, em vez de querer transformá-la de modo imediato.

É preciso deixar claro que ter empatia não tem nada a ver com a necessidade compulsiva de realizar os desejos alheios, própria dos relacionamentos co-dependentes.

Stephen Levine nos dá uma boa dica para identificarmos se nossos relacionamentos são saudáveis ou não: Na co-dependência, as balanças sempre pendem para um lado. É freqüente que um tenha de estar ‘por baixo’ para que o outro se sinta ‘por cima’.

Não há equilíbrio, somente a temida gravidade. Em um relacionamento equilibrado não há um ‘outro dominante’; os papéis estão em constante mudança. Quem tiver o apoio mais estável sustentará a escalada naquele dia.

A troca equilibrada entre ceder e requisitar, dar e receber afeto e atenção nos aproxima de modo saudável das pessoas que nos cercam sem corrermos o risco de criar vínculos destrutivos. O paradoxo do relacionamento é que ele nos obriga a sermos nós mesmos, expressando sem hesitação e assumindo uma posição.

Ao mesmo tempo, exige que abandonemos todas as posições fixas, bem como nosso apego a elas. O desapego em um relacionamento não significa que não tenhamos necessidades ou que não prestemos atenção a elas.

Se ignoramos ou negamos nossas necessidades, cortamos uma parte importante de nós mesmos e teremos menos a oferecer ao parceiro. O desapego em seu melhor sentido significa não se identificar com as carências nem com as preferências e aversões.

Reconhecemos sua existência, mas permanecemos em contato com nosso eu maior, onde as necessidades não nos dominam. A partir desta perspectiva, podemos escolher afirmar nosso desejo ou abandoná-lo, de acordo com as necessidades do momento.

A empatia começa com a capacidade de estarmos bem conosco mesmos, de reconhecermos o que não gostamos em nós e admirarmos nossas qualidades. Quanto melhor tivermos sido compreendidos em nossas necessidades e sentimentos quando éramos crianças, melhor saberemos reconhecê-las quando adultos.

Entrar em contato com os próprios sentimentos é a base para desenvolver a empatia.

Como alguém que desconhece suas próprias necessidades poderá entender as necessidades alheias?

Empatia nas empressas

> Empatia, um dos quatro pilares do saudável relacionamento




Como exemplo do uso da Empatia veja a seguir parte do livro Fazer Acontecer, de Júlio Ribeiro, Editora Cultura;

“(...) Tomemos por hipótese uma companhia que resolve lançar um novo produto para completar a sua linha de inseticidas. O pensamento ‘com esse produto vamos nos tornar líderes na categoria’ enche o diretor de marketing de entusiasmo. Mas não necessariamente o vendedor. Para ele, o novo produto representa mais um item na sua lista. Mais uma cota para preencher, mais tempo com cada cliente. A troco de que ele vai aderir?

Talvez a coisa possa mudar de figura numa conversa do tipo:

- Manolo, o que você acha de a gente colocar na linha de inseticidas um produto que ajude a vender os outros? Estava pensando que, sem uma mata-baratas, nossa linha está incompleta. O cliente tem que comprar produto por produto. Tô com vontade de completar a linha com o melhor mata-baratas do mercado.

A idéia é permitir ao vendedor oferecer uma linha completa. Se der certo, o vendedor pode faturar mais, em menos tempo, com menos esforço. Além disso, se o cliente comprar a linha completa , a gente tira a concorrência da jogada. O cliente passa comprar só do vendedor. O que você acha?

Se o Manolo e sua equipe tiverem que entusiasmar, acho mais provável que se liguem a alguma coisa que lhes traga benefícios. E isso é verdade para a equipe da fábrica, para a diretoria, a mulher do café, os clientes, as agências de propaganda e todas as pessoas que de uma forma ou de outra possam colaborar para que os objetivos sejam atingidos”.

Peter Drucker, a quem podemos considerar que nos seus últimos 50 anos de vida (morreu com 96 anos de idade) foi o guru dos gurus, também reforçou a importância do uso da empatia. Sendo entrevistado pela Harvard Business Review, assim falou Peter Drucker: “Você precisa não só conhecer suas competências, mas também as forças dos homens e mulheres a quem entrega atribuições, bem como aquelas dos seus pares e do seu chefe. Muitos gerentes ainda se guiam por médias.

Eles ainda falam a respeito dos ‘nossos engenheiros’. E eu digo: ‘Rapaz, você não tem engenheiros. Você tem João, Maria, Jaime e Beto, e cada um deles é diferente’. Não se pode mais gerenciar uma força de trabalho; você gerencia indivíduos e precisa conhecê-los bem (...)” .

Abrahm Lincoln, um dos lendários presidentes dos Estados Unidos reforça a importância da empatia. No seu preparo prévio ele se colocava no lugar do outro. Disse ele: “Quando me preparo para discutir com um homem, passo um terço do tempo pensando em mim - no que vou dizer - e dois terços pensando nele e no que vai dizer”.

Você fala para seres pensantes, divagadores por natureza. Se o ouvinte não se interessar pelo assunto você passará a falar para paredes ou cadeiras. A empatia deve estar presente no bom comunicador. Isto é, é preciso ser empático, o que significa ter a preocupação de, ao transmitir sua mensagem, colocar-se no lugar do outro, saber como e o quê o outro gostaria de ouvir.

Esteja sempre atento ao nível intelectual do público, ao sexo predominante, à faixa etária e ao conhecimento do público em relação ao tema, pois, estes indicadores lhe mostrarão qual será a linguagem e o conteúdo mais adequados.

Esteja também atento às diferenças individuais; as quais são as principais causas dos insucessos dos comunicadores não habilidosos. Daí a necessidade da aplicação da empatia, daí a importância do comunicador colocar-se no “lugar” do outro.

Mas como conseguir tal façanha?

Como colocar-se no lugar de cada ouvinte dada a diversidade de personalidades e opiniões?

Há solução para este problema.

Todo indivíduo tem algumas necessidades básicas que são comuns a todas as pessoas. Satisfazendo estas necessidades básicas (as quais devem ser selecionadas de acordo com o tema e o objetivo de sua fala) você estará falando diretamente para a mente do indivíduo.

Você verá a seguir 36 (trinta e seis!...) necessidades básicas dos indivíduos, as quais foram extraídas do livro Como Persuadir Falando (vale a pena adquiri-lo), Ediouro, de Marques Oliveira.

a) Todos querem ser:

Bons Pais; Sociáveis e hospitaleiros; Atualizados; Criadores; Orgulhosos dos seus sucessos; Líderes positivos; Gregários; Eficientes; Bem sucedidos em tudo; Reconhecidos como autoridades.

b) Todos querem obter:

Saúde; Tempo; Dinheiro; Popularidade; Aparência melhorada; Conforto; Lazer; Prazer em suas realizações; Progresso profissional, econômico e social; Satisfação em tudo que faz.

c) Todos querem fazer:

Expressar suas personalidades; Resistir a dominação dos outros; Satisfazer a curiosidade; Emular o admirável; Apreciar o Belo; Adquirir ou colecionar coisas; Ganhar a afeição de todos; Aperfeiçoar-se de modo geral.

d) Todos querem evitar:

Perda de tempo; Perda de tempo; Trabalho excessivo e desnecessário; Desconforto; Preocupações; Dúvidas; Riscos; Embaraço pessoal.

Portanto, se o objetivo de sua fala for a persuasão, não deixe de utilizar as necessidades básicas acima.

SABERMOS QUE “TODO MUNDO TEM RAZÃO”,

A PRINCIPAL TÉCNICA DA EMPATIA

Mesmo nosso próximo emitindo opiniões ou argumentos contraditórios, sem o raciocínio lógico ideal, ele tem a sua razão, ainda que esta parta de uma premissa falsa. Ter razão não implica em estar certo. Para entendermos melhor, relembremos o significado da palavra razão: razão é o resultado do raciocínio lógico sobre o conhecimento. Se o conhecimento for verdadeiro, a razão será verdadeira.

Se o conhecimento for falso, a razão será falsa, mas não deixará de existir. Em outras palavras, aquela pessoa que segundo nosso conceito está totalmente errada, ela assim não se vê. Pois as “verdades” ou as razões das pessoas são diferentes.

Mas será que o conhecimento desta regra implica em sairmos dizendo a cada pessoa do nosso grupo: “você tem razão”? Não. Não é este o objetivo da regra que diz que “todo mundo tem razão”. O objetivo desta regra é melhorarmos a qualidade da nossa argumentação.

Como? Sabendo que, para colocarmos nossos argumentos com eficácia, temos que, obrigatoriamente, refletirmo-nos sobre a razão do próximo, em vez de , como a maioria procede, tentarmos incontinente expor a nossa razão.

Analisando a razão ou a “verdade” do outro, nossas palavras serão mais adequadas para transformarmos nossa fala em comunicação.

Lembre-se sempre deste ensinamento universal (autor desconhecido): “Toda verdade tem três faces: uma, a verdade como você a vê; outra, como eu a vejo; e a terceira, a verdadeira”.

Para a produtiva convivência é preciso que aceitemos a verdade do outro. Lembrando que “aceitar” é diferente de “concordar”. Por exemplo, temos o direito de discordar do nosso filho de 12 anos que não sai da frente do vídeo game.

Mas para bem conviver e para conseguirmos mudança de comportamento dele, temos que aceitar que o vídeo game do nosso filho é o nosso “jogo de peão” ou “bola de gude” do nosso tempo de criança. Nosso filho nasceu no tempo da tecnologia, e isto é um fato. E fato não se muda.

Portanto, há duas formas de agir se você achar necessário argumentar com seu filho, esclarecendo-lhe que está excedendo o limite do bom senso, em termos de quantidades de horas diárias à frente do vídeo game:

a) Desabafar-se e não conseguir resultados duradouros;

b) Discordar da quantidade de horas, mas aceitar que ele nasceu num mundo completamente diferente do nosso tempo de criança.

Se escolhermos a alternativa “b”, a probabilidade de bem argumentarmos aumenta exponencialmente, pois “nos colocamos no lugar no nosso filho”, entendemos “sua razão” e, assim, torna-se mais fácil ele nos ouvir e até a negociarmos um acordo.

Alkíndar de Oliveira

emaptia nos relacionamentos

A EMPATIA COMO FACILITADORA DOS RELACIONAMENTOS AMOROSOS
E AS INFLUÊNCIAS DA MODERNIDADE


A instabilidade e a volatilidade das relações íntimas somadas às inúmeras transformações observadas nas práticas amorosas refletem a dificuldade de se manter um relacionamento em nossos dias, o que repercute numa ausência de comportamento empático para com o parceiro(a).

Desse modo, o objetivo deste artigo é destacar a importância da empatia como uma habilidade essencial na sustentação de relacionamentos amorosos e discutir as influências da modernidade que repercutiram nos conflitos dessas relações.

A empatia trata-se da capacidade humana de inferir e compartilhar os pensamentos e
os sentimentos das outras pessoas, e vem sendo apontada como uma habilidade essencial
para a qualidade das relações interpessoais, .

É preditiva de ajustamento marital e afeta a satisfação na relação conjugal, através de suas influências sobre comportamentos específicos de mediação .

Com isso, as pessoas que manifestam um comportamento empático são capazes de tornar suas relações mais prazerosas, reduzindo situações de conflito e de rompimento.

A empatia é definida como uma habilidade de comunicação, composta pelos
componentes cognitivo (compreensão dos sentimentos e perspectivas da outra pessoa),
afetivo (sentimentos de compaixão e simpatia pela outra pessoa) e comportamental
(transmissão do entendimento dos sentimentos e perspectivas da outra pessoa).

Vale chamar a atenção para o papel da compreensão empática, que envolve o
‘prestar atenção’ e o ‘ouvir sensivelmente’, e para o papel da comunicação empática, que envolve o ‘verbalizar sensivelmente’.

Quando bem ajustadas, essas funções promovem o desenvolvimento saudável das relações interpessoais, visto que a habilidade em ‘ler’ e valorizar os pensamentos e sentimentos das outras pessoas é o que, provavelmente torna esses indivíduos mais bem sucedidos em suas relações íntimas.


Dentro dessa concepção, é possível creditar à empatia um papel fundamental na
dinâmica das relações entre casais, atuando como um instrumento facilitador da
comunicação e do entendimento dos sentimentos, emoções e pontos de vista do outro.

Para entender melhor o funcionamento dos relacionamentos amorosos, faz-se
necessário compreender (ou pelo menos assumir) o sentido do amor, sentimento pelo qual,as pessoas buscam estar juntas e que constitui a maior razão de união em matrimônio.

Para tanto, podemos buscar as origens das concepções sobre o amor nos mitos, donde encontramos na mitologia greco-romana uma das primeiras formulações do significado do amor através das diferentes descrições do mito de Eros, o deus do amor (Braz, 2005).


Nas diferentes versões que Eros assumiu na mitologia, podemos observar a união
como uma característica constante, como nos aponta uma destas versões: Eros é visto como força de ligação e coesão do universo, trazendo em si o desejo de tudo ligar e unir .

Todavia, o mesmo Eros que tudo une, começa a ser visto sob dois ângulos distintos:
Na mesma versão de Eurípedes, Eros tem duplo caráter, num momento era força perniciosaque provocava a ruína dos homens e, em outro, o poder que levava a virtude e a salvaçãoaos homens.

Assim, fazendo uma analogia com os mitos, também podemos ver nas relações amorosas esse jogo de contraste, em que muitas vezes de um sentimentosaudável e construtivo, o amor passa a destrutivo, ao passo que patológico.

Não existe um consenso acerca da definição do amor romântico.

Dentro da Psicologia Social coexistem várias abordagens sobre as diferentes maneiras de amar, dentre as quais encontra-se a versão de Zick Rubin, pioneiro no estudo do tema, segundo a qual o amor é composto dos seguintes fatores: ‘afeição, preocupação e intimidade’.

Segundo Rubin, há alguns elementos que são comuns a todos os relacionamentos
amorosos, tais como, a ‘compreensão mútua, dar e receber apoio, gostar da companhia da pessoa amada’; bem como elementos distintivos, como no caso do amor romântico, em que muitas vezes o casal é capaz de se comunicar através da simples troca de olhares .

Hatfield (1988) define o amor romântico como “um estado de intenso anseio pela
união com outra pessoa”. Sendo assim, podemos ver mais uma vez o amor como elo que
estabelece os relacionamentos entre pares.

Contudo, sendo o amor um sentimento tão intenso e prazeroso, por que então observa-se tanta dificuldade na sustentação de relaçõesestáveis e duradouras?

O auge de um relacionamento, com todo seu estado de exaltação, não dura para
sempre. O que garantirá a durabilidade de uma relação é o que Hatifield chama de ‘amor de companheirismo’, no qual a ligação entre o casal é mais profunda e afetuosa.

Contudo, odeclínio do amor romântico é inevitável, e assim do fogo ardente da paixão, o amor passa ao calor ameno do afeto.

O mito de Eros e Psique nos traz uma bela visão do amor como algo poderoso e
superador, capaz de enfrentar tudo, e em meio às dificuldades conseguir amadurecer.

Mas,se até mesmo na construção poética dos mitos, o amor admite seu caráter de dificuldade,quiçá nos relacionamentos entre os casais, nos quais a prática cotidiana implica diversosproblemas de uma vida a dois.

Com toda a pressão do dia-a-dia, os conflitos tornam-se inevitáveis. Contudo, saber
ouvir provoca efeitos positivos na interação com o outro; a escuta sensível é capaz até mesmo de diminuir a raiva diante de uma situação difícil e possibilitar o entendimento dasrazões e dos sentimentos daquele que manifesta raiva, tornando possível o rompimento dasituação de conflito .

Desse modo, uma das características fundamentais de um bom relacionamento é a
qualidade da comunicação, e isto inclui tanto a linguagem verbal, como a não-verbal.


Entretanto, como bem sabemos, na prática não é tão fácil conseguir falar de tudo
explicitamente, ficando muito da nossa mensagem subentendida nas entrelinhas do
discurso.

Nesse sentindo, Goleman aponta que raramente as emoções das pessoas são postas em palavras, sendo expressas através de indícios, como pequenos gestos, que irão depender da capacidade de interpretação de canais não-verbais para que haja
compreensão dos sentimentos do outro.

Dentro desse contexto entra a questão da intimidade. A intimidade é uma conquista,
ou melhor, uma construção gradativa que se obtém através do tempo, e é claro, do nível deproximidade do casal. Deste modo, é preciso sim, dispor de tempo em quantidade equalidade no cuidado e atenção com o outro.


Experimentos em Psicologia Social demonstraram que o afeto direcionado à pessoa
amada faz com que ela retribua da mesma maneira, Com isso, demonstrar que se gosta de alguém é um passo para despertar o interesse no outro.

Quando pessoas sentem que atraem alguém, elas tendem a se sentir atraídas também, e passam a retribuir o afeto.


Nisso, pode-se dizer que entrar numa relação com alguém requer envolvimento,
cuidado, atenção e respeito aos sentimentos da outra pessoa. Assim, a empatia está para orelacionamento como o veículo que possibilita que aquilo que é despertado em nós atravésdo amor seja bem dirigido ao outro, de maneira que, numa situação recíproca, um casal seencontre verdadeiramente em ‘relacionamento’.

Nos dias de hoje, podemos facilmente conferir a fragilidade dos relacionamentos
modernos, nos quais se busca justamente evitar os problemas e as dificuldades. Bauman
bem nos aponta, a fluidez dos relacionamentos através da noção de amor líquido, doqual a incerteza e a insegurança são fatores constituintes.

Numa situação ambivalente, as pessoas buscam relações íntimas e ao mesmo tempo
se desvencilham dos laços que tais relações podem trazer.

Com isso, fazem uso de‘estratégias’ para construir e pautar seus relacionamentos:

São manuais de conquista, sitesde relacionamentos, namoros virtuais, enfim, inúmeros artifícios utilizados para a escolhado parceiro ideal, que deve ser desprovido de defeitos e que não tenha outra coisa aoferecer, a não ser perfeição.

E se o ‘produto’ adquirido não corresponde às expectativas,basta lançar uma nova busca no mercado por um modelo melhor.

Assim, nenhuma escolhaé dotada de rigor e pode a qualquer momento ser substituída por outra dentro de um mundo de opções, sem que haja maiores danos, numa relação de consumo pautada pelo custo e benefício.

Além da transformação que a modernidade acarretou nos relacionamentos íntimos,
outros fatores são levados em discussão para explicar os conflitos e as taxas de
rompimentos dos relacionamentos contemporâneos.

Um desses fatores é a consideração que homens e mulheres desenvolvem maneiras diferentes de expressar seus sentimentos em atitude ao outro. Goleman faz menção a isso, ao falar da diferença da educação entre meninos e meninas, nos quais uma cultura patriarcal leva os pais a ensinarem maneiras distintas aos filhos de como lidar com suas emoções.

Será que conseguiríamos imaginar umpai dizendo ao seu filho para ser sensível e delicado, e demonstrar seus sentimentos?

Um estudo realizado com matérias de revistas masculinas e femininas procurou
identificar a influência da mídia sobre esses dois públicos.

Os autores concluíram que o foco diferencial dessas revistas para cada gênero só faz reforçarvelhos preconceitos e estereótipos em respeito a atitudes de homens e mulheres numarelação, bem como produzir a idéia de que existe um roteiro de sucesso para tais relacionamentos.

Ademais, podemos conferir que a transformação da modernidade instaurou
profundas mudanças na visão dos relacionamentos amorosos.

A facilidade do rompimento conjugal, a liberdade sexual, a mudança de papéis na sociedade tanto de homens e mulheres e toda uma influência e potência dos avanços tecnológicos (televisão, Internet etc.)tiveram repercussão nesse processo.

Romperam-se numerosas barreiras de tempo e espaço; criaram-se idéias de felicidade e praticidade. Contudo, se esqueceu em meio a toda essa inovação,que as pessoas vivem em um mundo real, e este inclui uma gama de dificuldades e requer habilidades, esforços e disposição para lidar com ele.


Assim, de um lado temos a rapidez de um mundo volátil, inconstante e dinâmico; de
outro o processo longo e trabalhoso da construção de um relacionamento. Diferentes ladosde uma mesma realidade que se aproximam quanto à incerteza que ambos transmitem.

O amor, que aqui foi admitido como a força capaz de unir as pessoas, tem de competir com a rotatividade do mundo contemporâneo.

E nisso, muitas das habilidades essenciais, dentre as quais destaca-se a empatia, ou deixam de ser devidamente estimuladas ou são alocadas em segundo plano, já que ouvir, compreender e procurar entender os sentimentos da pessoa amada são tarefas árduas que requerem disposição, entrega e envolvimento.

A possibilidade de trocar de parceiro a qualquer momento, não foi capaz de diluir a
insegurança da aposta em um relacionamento estável; o incerto passou a ser endereçado à instabilidade dos relacionamentos modernos.

A solução deste impasse talvez se encontre na simplicidade de um olho no olho, na sinceridade de uma palavra amável, no calor real dasrelações humanas.

Algo de antiquado? Talvez sim, mas usando as palavras de Carlos Drummond de Andrade:

“A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da
vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que
nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidadedos laços humanos.

Escuta empatica para casais

O aumento paulatino do número de divórcios, tanto no Brasil quanto no mundo, revela dados preocupantes, com um índice de 60% nos EUA, de 40% na Inglaterra e de 25% no Brasil (Vila, 2002).

Problemas de relacionamento entre casais e de insatisfação no casamento têm sido apontados como um dos maiores estressores da vida, levando a transtornos psiquiátricos e enfermidades físicas .

O estresse no relacionamento conjugal pode levar à violência entre os parceiros, cujas consequências mais extremas são o homicídio ou o suicídio . Além disso, perturbações conjugais também trazem consequências negativas para os filhos e familiares

Os custos potenciais da crise conjugal e do divórcio têm feito com que esse tema ocupe um papel central na literatura psicológica sobre casais, motivando a busca de intervenções para tratar o conflito entre os cônjuges (Fincham & Horneffer, 1996).


No campo da pesquisa, procura-se entender que fatores podem contribuir para um casamento feliz, uma vez que a satisfação conjugal fortalece o sistema imunológico do indivíduo, aumentando o seu tempo de vida

Todas essas constatações explicam por que a satisfação conjugal tem sido amplamente estudada , sendo esta compreendida como a satisfação do indivíduo com o relacionamento no geral e em seus aspectos específicos .

Em uma revisão de estudos, Norgren, Souza, Kaslow, Hammerschmidt e Sharlin (2004) encontraram que a satisfação com o casamento se relaciona a sentimentos de bem-estar, contentamento, companheirismo, afeição e segurança. Tais fatores promovem intimidade no relacionamento e decorrem da congruência entre as expectativas e aspirações dos cônjuges e a realidade vivenciada.

Outros autores, como Arias e House e Dela Coleta , reconhecem que a satisfação conjugal é um fenômeno complexo, além de sofrer a influência de diversas variáveis, tais como: características de personalidade, valores, atitudes e necessidades, sexo, momento do ciclo da vida familiar, presença de filhos, nível de escolaridade, nível socioeconômico, nível cultural, trabalho remunerado e experiência sexual anterior ao casamento. Entretanto, a capacidade para se comunicar parece constituir a base dessas variáveis.

Parker encontrou que os casamentos satisfeitos de longa data dependem de algumas habilidades de interação tais como: desenvolver capacidade para lidar com conflitos; consultar o parceiro na tomada de decisões; manter uma boa comunicação; cultivar valores tais como confiança, respeito, compreensão e equidade; desenvolver a intimidade sexual e psicológica.


Em estudo realizado por Leichty, Willinhganz e Hart (2002, citado em Falcone & Ramos, 2005), verificou-se que indivíduos que relataram maiores níveis de satisfação conjugal eram mais habilidosos socialmente e comunicavam-se mais adequadamente.


Tais resultados são confirmados por diversos estudos que relacionam a capacidade de escuta e de resolução de conflitos ao aumento da satisfação conjugal e à redução do índice de divórcio.


Terapeutas de base cognitivo-comportamental propõem que o desenvolvimento de habilidades sociais entre os casais em crise contribui significativamente para a maior eficácia da comunicação e da resolução de problemas conjugais .

A literatura sobre habilidades sociais vem se desenvolvendo a partir de constatações de sua influência na qualidade de vida e na saúde Entretanto, não existe um consenso sobre a sua definição. Para Caballo , o comportamento socialmente habilidoso corresponde ao:

Conjunto de comportamentos emitidos por um indivíduo em um contexto interpessoal que expressa sentimentos, atitudes, desejos, opiniões ou direitos deste indivíduo, de um modo adequado à situação, respeitando estes comportamentos nos outros e que geralmente resolve os problemas imediatos da situação, minimizando a probabilidade de problemas futuros.

A definição de Caballo refere-se ao comportamento assertivo, o qual é considerado pelo autor como sinônimo de habilidades sociais . O termo assertividade envolve "defender os direitos pessoais e expressar pensamentos, sentimentos e crenças de forma honesta, direta e apropriada, sem violar os direitos da outra pessoa" .

Entretanto, alguns autores afirmam que as habilidades sociais compreendem um repertório mais amplo de respostas, no qual se inclui o comportamento assertivo.

As habilidades sociais são consideradas de forma mais abrangente por Del Prette e Del Prette, ao conceituá-las como diferentes classes de comportamentos sociais que podem ser utilizados pelo indivíduo para lidar de maneira adequada com as demandas das situações interpessoais.

Para os autores, o conjunto das habilidades necessárias para o bom relacionamento social inclui diferentes classes e subclasses, tais como habilidades de comunicação, assertivas, empáticas, de civilidade, de expressividade emocional, de trabalho etc.

Para Falcone e Ramos , o conceito de comportamento socialmente competente deve incluir a capacidade de obter satisfação pessoal, por meio da expressão de sentimentos, da defesa dos próprios direitos (assertividade) e, ao mesmo tempo, da motivação genuína para compreender e atender às necessidades da outra pessoa (empatia).

Além disso, componentes cognitivos, tais como a atenção, percepção, memória e processamento da informação estão também envolvidos no repertório apropriado de desempenho social. A partir desses componentes, o indivíduo pode saber quando e como se comportar adequadamente .

A empatia "caracteriza-se pela habilidade em compreender, de forma acurada, os sentimentos e a perspectiva da outra pessoa, bem como de transmitir entendimento de tal maneira que esta se sinta verdadeiramente compreendida e acolhida"

O comportamento empático inclui:

(a) um componente cognitivo, caracterizado por uma capacidade de compreender acuradamente a perspectiva e os sentimentos dos outros, referido como tomada de perspectiva;

(b) um componente afetivo, caracterizado por sentimentos de compaixão/preocupação com a outra pessoa; e

(c) um componente comportamental, entendido como manifestações verbais e não verbais de compreensão dos estados internos da outra pessoa (Falcone, 2000).

No contexto das interações sociais, a empatia é apreciada pelo interlocutor, que se sente valorizado, aceito, reconhecido e entendido . Além disso, a empatia promove maior entendimento na interação e, em situações de conflito, reduz os atritos e a probabilidade de rompimento.

A empatia possui, ainda, o poder de reduzir a raiva da outra pessoa, tornando-a mais disponível para ouvir, facilitando o diálogo de entendimento

Entretanto, comportar-se de forma empática na maior parte do tempo, abrindo mão das próprias necessidades, pode levar à insatisfação e frustração. Assim, parece que a promoção de interações agradáveis e de satisfação pessoal consiste na integração das habilidades empáticas e assertivas

Os vários estudos empíricos e revisões teóricas atestando a importância das habilidades sociais na satisfação conjugal levam às seguintes questões:

(a) o indivíduo que percebe o seu cônjuge como capaz de ouvir e compreender (empatia), assim como de expressar sentimentos e desejos adequadamente (assertividade), experimenta mais satisfações no casamento do que aquele que não tem essa percepção?;

(b) as habilidades empáticas do cônjuge promovem mais satisfação em seu parceiro do que as habilidades assertivas? Tais questões motivaram a realização deste estudo que teve como objetivo avaliar o quanto a percepção das habilidades sociais do cônjuge pode influenciar a satisfação de um indivíduo com seu relacionamento conjugal.



Método

Participantes

Foram avaliados os níveis de habilidades sociais e de satisfação conjugal de 100 participantes (50 casais). Definiu-se que os participantes deveriam estar casados há, pelo menos, sete anos e ter escolaridade mínima de Ensino Médio completo. As características sócio-demográficas da composição da amostra estão listadas na Tabela


Instrumentos

A avaliação da satisfação conjugal foi realizada a partir da Escala de Satisfação Conjugal (Dela Coleta, 1989), em que o participante avalia sua própria satisfação com o casamento. Os inventários que medem habilidades sociais - Questionário de Empatia Conjugal e Inventário de Habilidades Sociais Conjugais (Villa, 2002) - foram aplicados de forma a que as perguntas se relacionassem ao comportamento do cônjuge.

Para isso, o Inventário de Habilidades Sociais Conjugais precisou ser gramaticalmente adaptado pelos pesquisadores de modo a que as respostas refletissem as habilidades do cônjuge, mantendo-se a estrutura e o conteúdo dos itens.

Para o Questionário de Empatia Conjugal e para a Escala de Satisfação Conjugal existem duas versões, masculina e feminina, nas quais o gênero dos itens se altera, permanecendo, contudo, o mesmo conteúdo. Tal divisão em duas versões foi mantida neste estudo.

Escala de Satisfação Conjugal - ESC (Dela Coleta, 1989). Trata-se de uma escala de auto-informe, desenvolvida originalmente em língua espanhola, traduzida e validada para o português por Dela Coleta, em 1989. A escala contém 24 itens, cada um com três opções de resposta. Quanto maior a pontuação, maior a satisfação do participante com a relação conjugal.

A escala é composta por três subescalas que medem os seguintes aspectos da relação conjugal: interação conjugal, aspectos emocionais e aspectos estruturais. Interação conjugal se refere à maneira como um cônjuge se comporta na interação com seu par, englobando aspectos da comunicação do casal e da frequência de comportamentos positivos e negativos na interação.

Os itens que medem os aspectos emocionais dizem respeito à maneira como o companheiro expressa sentimentos e a como se comporta quando experimenta sentimentos negativos, como raiva e preocupação.

O fator aspectos estruturais, por sua vez, é composto de itens que se relacionam com a maneira pela qual o parceiro organiza a própria vida e o impacto que tal organização tem no relacionamento conjugal.

A versão traduzida teve sua estrutura fatorial validada por meio da análise fatorial. A escala alcançou um Alpha bastante alto tanto para a escala total (α=0,91), quanto para suas subescalas: interação conjugal (α=0,86), aspectos emocionais (α=0,81) e aspectos estruturais (α=0,79).

Questionário de Empatia Conjugal - QEC (Oliveira, 2005). Trata-se de um questionário auto-aplicável, composto por 36 itens, contendo elementos cognitivos, afetivos e comportamentais observados nas pesquisas de relações conjugais, que busca avaliar como o respondente percebe o comportamento do companheiro em relação a si próprio.

Cada item tem uma pontuação que varia entre 1 (nunca) e 4 (sempre). Quanto maior a pontuação, maior a empatia conjugal do parceiro. Este questionário teve sua consistência interna verificada e sua estrutura unifatorial validada pelo método da análise fatorial, obtendo α=0,95 para a escala total.

Inventário de Habilidades Sociais Conjugais - IHSC (Villa, 2002). É baseado no IHS-Del Prette (Del Prette & Del Prette, 2001). O IHSC é semelhante ao IHS-Del Prette, com algumas formulações para torná-lo mais específico às situações próprias do relacionamento conjugal, resultando em um instrumento com 32 itens.

A análise da estrutura fatorial do IHSC foi feita pelo método Alpha, com rotação Varimax, resultando em cinco fatores (comunicação assertiva, expressão de sentimento positivo/agrado, expressão de desacordo/desagrado, desinibição/espontaneidade e controle da agressividade), O coeficiente Alpha, que determina a consistência interna dos fatores variou de 0,85 a 0,42.

Por meio do Alpha de Cronbach total (0,81), constatou-se que o IHSC possui uma boa consistência interna, no que concerne à escala total.

Procedimento

A pesquisa obteve aprovação no Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Parecer 028/2006). O estudo foi realizado em uma clínica médica, Clínica de Medicina do Exercício, situada em Copacabana, Rio de Janeiro.


Foram entregues, a cada participante, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os três instrumentos de pesquisa e uma folha contendo perguntas para a caracterização da amostra (idade, sexo, tempo de casamento, número de filhos, número de casamentos e grau de instrução).

Não houve tempo-limite para a resposta aos questionários e foi permitido que os participantes levassem os inventários para casa, devolvendo após alguns dias. Os casais foram instruídos a responder às questões individualmente e não houve nenhum tipo de devolução dos resultados aos participantes.

Análise de dados

Foram realizadas análises estatísticas descritivas com o objetivo de caracterizar o grupo estudado, bem como análises estatísticas sobre as relações entre as variáveis pesquisadas. O software utilizado foi o SPSS (versão 11.0).

Optou-se por reavaliar a estrutura fatorial de dois instrumentos utilizados, o IHSC e o QEC, a partir dos dados obtidos nesta amostra, a fim de verificar a estrutura unifatorial do QEC e de obter, no IHSC, uma estrutura fatorial que apresentasse maior validade em relação à amostra deste estudo. O procedimento utilizado foi o de análise fatorial por meio do método dos componentes principais.

Foram inicialmente calculadas as médias obtidas pelos participantes em cada fator, de maneira que, quanto maior o resultado, maior o grau da característica mensurada pelo fator. Em seguida, foram calculados as médias, os desvios-padrão e os coeficientes de correlação de Pearson de cada par de fatores.

Posteriormente, foram realizadas análises de regressão linear múltipla, adotando-se as variáveis sócio-demográficas (idade, sexo, escolaridade, número de casamentos, número de filhos e tempo de casamento) e as dimensões do QEC e do IHSC como preditoras (variáveis independentes) e as três modalidades de satisfação conjugal (interação conjugal, aspectos emocionais e aspectos estruturais) como variáveis critério (dependentes).

No método de regressão linear múltipla, cada bloco de variáveis independentes é introduzido na equação em uma ordem predeterminada pelo pesquisador. Nesse sentido, para o controle de seus efeitos na satisfação conjugal, as variáveis sócio-demográficas foram incluídas no primeiro bloco, enquanto no segundo bloco foram adicionadas as dimensões do IHSC e do QEC, verificando-se a contribuição da adição de cada bloco e variáveis no modelo pelo incremento do R2. Tais procedimentos foram realizados separadamente para cada uma das variáveis critério.



Resultados

Na análise fatorial do QEC, de acordo com os dados da amostra, verificou-se que a estrutura mais apropriada seria uma estrutura unifatorial, englobando itens que medem características cognitivo-comportamentais da empatia e descartando outros que não se encaixavam estatisticamente em nenhum fator, ficando o questionário com 24 itens, todos com cargas fatoriais acima de 0,45. Assim, o Alpha obtido para esta estrutura foi de 0,94.

A nova estrutura fatorial encontrada para o IHSC consistiu em três fatores, denominados neste estudo: (1) Tolerância e escuta empática; (2) Expressão de sentimentos; e (3) Defesa dos próprios direitos. Os coeficiente Alpha dos fatores obtidos foram, respectivamente: 0,81, 0,71 e 0,90. Alguns itens foram excluídos por não se encaixarem estatisticamente na estrutura fatorial, ficando o instrumento com 25 itens.

A estrutura fatorial original da ESC foi mantida. Entretanto, foram calculados os coeficientes Alpha dos fatores para a presente amostra. O fator 1, interação conjugal, obteve um Alpha igual a 0,90; o fator 2, aspectos emocionais, atingiu um Alpha de 0,87; e o fator 3, aspectos estruturais, alcançou um Alpha igual a 0,84.

Foram calculados ainda as médias e os desvios-padrão das respostas dadas pelos participantes aos itens de cada uma das escalas. Nos fatores da ESC, as respostas poderiam variar entre 1 e 3; no QEC, entre 1 e 4; e, nas escalas do IHSC, entre 1 e 5. Na Tabela 2 estão as médias e desvios-padrão para cada escala.




Além disso, as médias das respostas dadas pelos participantes a cada uma das escalas foram comparadas quanto ao sexo. Nessa análise, foi encontrada uma diferença significativa entre os sexos apenas nas respostas ao QEC, com os homens tendendo a avaliar suas parceiras como mais empáticas do que estas os avaliaram (Tabela 3).





Posteriormente, foram calculadas também as correlações de Pearson entre os fatores das medidas de habilidades sociais e os fatores da ESC, como mostra a Tabela 4. A partir desse cálculo, observa-se que o QEC apresentou as maiores correlações com as escalas que mediam satisfação conjugal.





A seguir, foi realizada a análise de regressão múltipla para cada um dos fatores da ESC. A análise foi feita em dois blocos, sendo o primeiro bloco constituído das variáveis sócio-demográficas da amostra (sexo, idade, número de filhos, número de casamentos e escolaridade) e o segundo bloco, dessas variáveis acrescidas das subescalas que mediam habilidades sociais (QEC, Tolerância e escuta empática, Expressão de sentimentos e Defesa dos próprios direitos). Abaixo, encontram-se os resultados para cada fator da satisfação conjugal.

a) Interação conjugal. As variáveis sócio-demográficas (primeiro bloco) explicaram 13% da variância (F(5,91)=2,81; p<0,021) e apenas o número de filhos afetou significativa e negativamente a satisfação conjugal (β=-0,31; t=-2,73; p<0,008). A entrada das medidas de habilidades sociais (segundo bloco) na equação se mostrou capaz de explicar 62% da variância (F(4,87)=55,51; p<0,000), indicando que as habilidades sociais influenciam significativamente a interação conjugal.

Nesse modelo, a medida que mais contribuiu para a explicação da interação conjugal foi a empatia (QEC), que se correlacionou positiva e significativamente com esse fator da satisfação conjugal (β=0,64, t=6,52; p<0,00), seguida pelo número de filhos (β=-0,18; t=-2,74; p<0,007), que se correlacionou negativa e significativamente com a interação conjugal, e pela expressão de sentimentos (β=0,148; t=2,47; p<0,015), que também apresentou uma correlação positiva significativa com essa variável.

Tais dados indicam que quanto maior o nível de empatia percebida no cônjuge, melhor será a interação conjugal. Por outro lado, a qualidade da interação conjugal decai com o aumento do número de filhos. Finalmente, níveis mais elevados de expressão de sentimentos do cônjuge, percebidos pelo seu par, também se relacionam com mais qualidade da interação conjugal, porém, em menor grau do que a empatia conjugal.

b) Aspectos emocionais. As variáveis sócio-demográficas, que formavam o primeiro bloco, foram responsáveis pela explicação de 2% da variância nesse modelo (F(5,91)=0,63; p<0,674), enquanto a adição das medidas de habilidades sociais (segundo bloco) no cálculo explicou 69% dessa variância (F(4,87)=18,34; p<0,000). Isso significa que somente as variáveis sócio-demográficas não podem explicar de maneira significativa a variação dos aspectos emocionais da satisfação conjugal e que as medidas de habilidades sociais, por outro lado, influenciam significativamente esse fator.

Nesse bloco, as variáveis que se correlacionaram positiva e significativamente com os aspectos emocionais foram a expressão de sentimentos (β=0,25; t=2,84; p<0,006) e a defesa dos próprios direitos (β=0,22; t=2,12; p<0,037). Em outras palavras, quanto mais um indivíduo percebe o seu cônjuge expressando sentimentos e agindo de modo a defender seus próprios direitos, mais satisfeito estará esse membro do casal com os aspectos emocionais do seu parceiro.

c) Aspectos estruturais. No que se refere aos aspectos estruturais do parceiro que contribuem para a satisfação conjugal, a análise de regressão múltipla apresentou um grau de 7% da variância explicada somente pelas variáveis sócio-demográficas (primeiro bloco) (F(5,91)=1,39; p<0,236), enquanto o segundo bloco (adicionando as medidas de habilidades sociais) foi responsável por 47% da variância encontrada (F(4,87)=22,20; p<0,000). Nesse modelo, apenas a empatia (QEC) correlacionou-se significativa e positivamente com a variável critério (β=0,65; t=4,83; p<0,000). Assim, somente o grau de empatia percebida no cônjuge influenciou diretamente a satisfação com os aspectos estruturais do parceiro.



Discussão

O presente estudo procurou responder a algumas questões a respeito do impacto das habilidades sociais percebidas no cônjuge na satisfação conjugal de seu parceiro. Verificou-se, a partir dos dados obtidos, que a empatia se relaciona direta e significativamente com todos os aspectos da satisfação conjugal. Assim, quanto maior o grau de empatia percebido no cônjuge, melhor a interação conjugal e maiores os níveis de satisfação alcançados com os aspectos emocionais e estruturais do cônjuge.

Tais dados confirmam os estudos que enunciam que a empatia contribui para maior qualidade no casamento, na medida em que promove maior entendimento na interação, diminuindo a possibilidade de rompimento, intensificando o afeto, aliviando a angústia da outra pessoa, bem como aumentando a auto-estima e a aceitação do cônjuge que manifesta empatia (Barrett-Lennard, 1988; 1993; Bissonnette & cols., 1997; Burleson, 1985; Goleman, 1995; Long & Andrews, 1990; Nichols, 1995; Oliveira, 2005).

Assim, sugere-se que a empatia influencia diretamente a interação conjugal, na medida em que, quando um parceiro procura ver os fatos sob a ótica do outro, muitos atritos na interação podem ser evitados e a solução de problemas de interação se torna mais fácil.

Além disso, a satisfação com os aspectos estruturais do cônjuge mostra-se mais elevada, uma vez que o indivíduo, ao adotar a perspectiva do parceiro, consegue organizar sua vida de maneira a levar em consideração as necessidades de seu cônjuge.

Ainda, a adoção de uma postura empática reduz a raiva, tornando o parceiro mais disponível para ouvir, facilitando o diálogo de entendimento (Goleman, 1995; Nichols, 1995), o que provavelmente levará a uma maneira mais adequada de lidar com sentimentos negativos, contribuindo para maior satisfação quanto aos aspectos emocionais do parceiro no relacionamento.

Os dados desta pesquisa sugerem também que um cônjuge capaz de expressar seus sentimentos contribui para maior satisfação de seu par com o relacionamento conjugal. Esse fator influencia a satisfação conjugal em menor grau do que a empatia, mas ainda assim, de maneira significativa.

A literatura indica que, no cotidiano, a expressão assertiva dos desejos, sentimentos e necessidades facilita a solução de problemas interpessoais, aumenta o senso de auto-eficácia e a auto-estima, melhora a qualidade dos relacionamentos e promove a tranquilidade (Falcone, 1999).

Ainda, a partir desses resultados, é possível hipotetizar que compreender como o parceiro se sente, por meio da expressão adequada de sentimentos por parte deste, facilita que o cônjuge emita comportamentos e tenha atitudes que contribuam para a satisfação conjugal.

De acordo com Taganelli (2003), as dificuldades em interpretar o comportamento e os sentimentos do outro levam ao fracasso do relacionamento. Assim, na medida em que um indivíduo se expressa satisfatoriamente, seu cônjuge pode atender suas necessidades de maneira mais acertada e esse cônjuge pode, ainda, sentir-se mais satisfeito quando recebe um feedback sincero sobre suas ações e pode ajustá-las de forma a agradar seu parceiro.

Parece razoável pensar que o sentimento de ser compreendido, acolhido e validado pelo cônjuge empático promove uma sensação de aceitação e valorização, levando à satisfação de um indivíduo com seu casamento. É possível que o próprio indivíduo que empatiza se sinta mais satisfeito ao promover a satisfação conjugal de seu parceiro, pelas razões acima descritas.

Além disso, aquele que consegue expressar adequadamente seus sentimentos, provavelmente também se sentirá mais aliviado e feliz ao provocar bem estar em seu cônjuge. Nesse sentido, é possível concluir que tanto a empatia quanto a expressão de sentimentos do parceiro atuam diretamente na satisfação conjugal de um indivíduo.

O estudo também permite concluir que, em certos contextos, a combinação de expressões assertivas e empáticas gera efeito ainda maior sobre a satisfação com o casamento do que cada uma delas isoladamente.

Tal hipótese confirma as afirmações de Falcone (2003), em que somente a expressão de sentimentos e necessidades não é suficiente para um relacionamento interpessoal satisfatório, sendo necessária também a empatia para maximizar a qualidade dos relacionamentos.

Os resultados do estudo mostraram que o número de filhos estava inversamente relacionado à qualidade da interação conjugal. Apesar de não ter sido avaliado o impacto dessas variáveis diretamente sobre o grau de habilidades sociais de um indivíduo, pode-se hipotetizar que o estresse causado pelo maior número de filhos demande mais esforço e habilidades dos cônjuges.

Esse resultado é coerente com dados de Ellison e Hall (2003), que apontam que múltiplos filhos têm impacto negativo em diversos aspectos da qualidade de vida, incluindo a satisfação conjugal e o estresse emocional dos pais. Em outro estudo, Ellison e colaboradores encontraram que para cada filho adicional a partir do primeiro, as chances de piora na qualidade de vida dos pais e de toda a família mais do que dobram (Ellison & cols., 2005).

Finalmente, não foram observadas diferenças significativas entre os gêneros em relação à satisfação conjugal. Contudo, houve diferença significativa entre os sexos em relação à empatia percebida no cônjuge. Os homens tenderam a avaliar suas parceiras como mais empáticas do que foram avaliados pelas mesmas. Assim, pode-se considerar que, nessa amostra, as mulheres atingiram maiores níveis de empatia do que os homens.

Tal dado confirma o estudo de Graham e Ickes (1997, citado por Falcone, 1999), que afirmam terem as mulheres maiores níveis de empatia. Essa diferença pode se dever, de acordo com Falcone (1999), tanto a uma predisposição biológica moldada pela necessidade evolutiva de decodificar acuradamente os estados emocionais e necessidades dos bebês, quanto a fatores culturais, uma vez que, em nossa sociedade, as mulheres são treinadas a estarem atentas às necessidades dos outros. Por outro lado, no que se refere à expressão de sentimentos, não houve, nessa amostra, diferenças significativas entre os sexos.

Concluindo, o estudo confirma pesquisas anteriores que atestam ser a satisfação conjugal influenciada pelo nível elevado de habilidades sociais dos cônjuges. Espera-se que esses resultados possam contribuir para futuros estudos, visando à melhoria da satisfação conjugal e da qualidade de vida.

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Recebido em 28.02.07
Primeira decisão editorial em 18.05.09
Versão final em 08.06.09
Aceito em 15.06.09





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