terça-feira, 23 de março de 2010

Empatia; A emoção que veio para ficar

Há algumas semanas recebi um pedido por telefone para uma conversa sobre empatia.

Meu interlocutor era um jornalista que desejava fazer uma matéria a respeito. Ao mesmo tempo, explicou que era candidato a uma vaga de repórter em um grande jornal. Ele queria aproveitar para fazer uma ótima impressão na entrevista de seleção.

Combinamos que ele viria no dia seguinte ao meu escritório. Antes, orientei-o para ler a matéria de Veja sobre a maior absorção de mulheres grávidas pelo mercado de trabalho . "Mas o que tem isso a ver com empatia?", perguntou o repórter ansioso.

Naquela hora, eu não teria muita chance de convencê-lo sobre a primeira tacada anti-empática que ele acabara de dar; preferi responder que a matéria iria transformar o conteúdo do nosso encontro.

Ele fez o tema de casa. No dia seguinte, falou de Ana Cristina Dutra com sorriso largo. "Mas que sorte a dela", disse, sublinhando que, encerrado o mestrado no Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração, no Rio de Janeiro, ela engravidara. Grávida, conseguira o emprego da Repsol YPF, um grupo espanhol do setor de petróleo. Sim, o empregador o sabia, e quis que a vaga fosse dela.

Contei ao jovem repórter o caso de Maristela, gaúcha pós-graduada em marketing que compareceu à entrevista para a qual fora selecionada, tendo antes detalhado estar grávida de três meses. Perguntada porque queria o emprego, ela disse: "o produto da empresa tem a minha cara. Sei tudo sobre ele e posso fazer muito para alavancá-lo no mercado".

Na semana seguinte, o diretor da empresa lhe comunicou que a vaga não era dela. O consultor de recursos humanos, que prestava assessoria na área de contratações, argumentou que admitir uma pessoa pouco antes da licença-maternidade não era sensato. Além disso, julgou que a moça mostrava excesso de autoconfiança ao espelhar-se no produto da empresa.

"Não é por você estar grávida", disse-lhe o empresário. "E quer um conselho? Nunca diga que o produto da empresa tem a sua cara. Indica excesso de confiança."

O jornalista escutava com atenção enquanto eu explicava que a base da empatia está na confiança em si mesmo. Só somos capazes de identificar que determinado produto ou serviço tem a nossa cara depois de cuidadoso processo que envolve milhões de neurônios cerebrais. Primeiro, eles precisam concluir que a rede interna que processa a auto-imagem estabelece um match preciso com a imagem do produto ou serviço.

Esse pareamento bem-sucedido não vai acontecer mais do que umas poucas dezenas de vezes durante a vida. Por isso, ter algo de uma empresa, estrutura ou instituição "na cara" é uma preciosidade.

Logo depois, ainda grávida, Maristela conseguiu emprego em uma multinacional. Seria coordenadora sênior da área de marketing. Ao dar-lhe a notícia, o chefe de recursos humanos salientou: "Parabéns. Achamos que você tem a cara do nosso produto e vai realizar um excelente trabalho para alavancá-lo no mercado".

Expliquei ao repórter que decisões desse tipo muitas vezes decorrem da empatia presente no encontro. Ao pressentir que o potencial da candidata grávida quintuplicaria depois da licença-maternidade, a empresa apostava nela. Ao perceber que a empresa a aceitava com o filho por nascer, uma janela se abria em seu coração. Essa é a mágica operada pela empatia.

Empatia tem algo de fortemente biológico. Diferente de como alguns pensam, não se pode encená-la. Empatia significa pensar com os pés dentro dos sapatos do outro. Você concorda que é difícil deixar de perceber a candura e a persistência de uma mulher grávida batalhando por seu emprego?

No caso dela, a progesterona conta a seu favor. E nós, mortais comuns, como fazemos para ter empatia?

O segredo é contar com o coração. Há em todos nós uma linguagem que sai diretamente de dentro do peito. Encenar é com o cérebro; falar com empatia é coisa do coração. É algo parecido com cantar como canta o Martinho da Vila: você não o vê, mas vê seu sorriso em cada linha do refrão.

Um dia teremos que responder porque pleiteamos trabalhar nessa empresa ou naquela instituição. Esse é o momento para estabelecer empatia. O entrevistador conhece todas as frases-chavão. Não há como ser criativo.

Só há uma resposta que ele ainda não ouviu. A sua. Aquela que vem direto do coração, cuja honestidade vai nocauteá-lo. Ela é como sua impressão digital: única e intransferível. Você ganha a entrevista na hora.

Exemplifiquei dizendo que a última coisa que eu soube da Maristela é que o gráfico de vendas do produto da empresa havia batido no teto. Claro, é trabalho de equipe, ela mesma enfatizava isso. Todos nós trabalhamos em equipe.

Meu amigo jornalista, que era arguto, ponderou que ao responder do coração, ela não tinha ganhado o emprego na primeira tentativa. Claro, empatia também precisa de um coração do lado de lá. Mas eles são cada vez mais freqüentes hoje em dia. Não é que emoção no trabalho esteja em alta; ela veio para ficar.

Casualmente, perguntei ao Alceu por que ele queria trabalhar "lá". Acho que ele já sabia que eu ia perguntar isso. Sorrindo de mansinho, olhou-me com seus dentes brancos.

"A primeira matéria de verdade que eu li na vida estava naquele jornal. Foi com base nela que eu escrevi minha redação no vestibular. E me saí bem demais". Desde então, completou, "eu sabia que um dia acabaria por lá".

Senti um breve arrepio junto com seu sorriso e o aperto de mão. Acho que ele havia entendido tudo.

E quanto a você, leitor, a sua resposta já está no coração?

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