terça-feira, 23 de março de 2010

Suspender – ver como vemos

Vivenciamos uma experiência muito bonita e verdadeira na última reunião da SOL que teve como propósito aprofundar nosso aprendizado com o livro Presença.

Minha percepção me diz que o grupo se conectou profundamente e vivenciou a descida do U.

No início da reunião a Cris me ofereceu a tarefa de registrar a reunião para depois relatarmos as principais percepções e colocarmos no site da SOL, Aceitei rapidamente pois a tarefa me pareceu, a princípio,
simples.

Decidi que para registrar as nossas conversas, deveria praticar a escuta profunda e limpa de julgamentos, em suspensão, com o coração aberto e assim comecei a registrar as nossas conversas.

Relato agora a minha vivência da reunião e o que cada momento significou para o meu aprendizado.

Começamos nos apresentando, contando as nossas histórias de vida em busca do nosso propósito, do alinhamento com a nossa alma e como chegamos ao livro Presença e a esta reunião da SOL.

Já na apresentação percebemos, como disse o Fabrice, lembrando do filme
Matrix, que todos nós em algum momento “tomamos a pílula azul”, mostrando a capa AZUL do livro Presença, e descortinamos o nosso entendimento do mundo deixando de aceitar a realidade tal qual nos é apresentada, assim como fez Truman (filme Show de Truman) ao poeticamente subir a escada no meio do cenário de nuvens.

Na busca da suspensão do pensamento e com o coração aberto iniciei um processo de envolvimento com cada participante e com o grupo.

A tarefa não era tão simples assim.

Quebrando o silêncio do início lembramos um trecho do livro onde Otto diz que não mudamos porque achamos que somos imortais.

Isto nos levou a refletir que muitas vezes só acordamos para enxergar a
vida e vivê-la com o nosso coração quando estamos em contato com a morte.

Me tocou particularmente as histórias de vida contadas pela Flávia e Patricia e me lembrei também das minhas histórias de perda e proximidade com a morte e de como estes momentos me levaram a repensar a minha vida.

E como lembrou a Leia estamos sempre procurando a normalidade, mas é no Caos que devemos relaxar e deixar as coisas acontecerem.

Pois são nos momentos de caos e de crise que surgem as oportunidades, mas só vamos enxergá-las se deixarmos de lado os nossos downloadings habituais e visualizarmos
o todo com o coração.

Para exemplificar este pensamento do grupo, Fabrice, relembrando a fala sábia de um amigo, simbolizou que a vaga de um estacionamento só consegue ser preenchida por outro carro se tirarmos o carro que lá está estacionado.

Redirecionar – ver a partir do todo

A Cris nos alertou que não precisamos procurar, caçar o nosso propósito e sim ficar somente Presente, sentindo, aberto, disponível para que as coisas aconteçam, nos contando que Don Juan Matus, dizia que a diferença entre o homem comum e o guerreiro é que o guerreiro está sempre consciente e alerta e com agilidade ele aproveita o centímetro cúbico de oportunidade que lhe foi oferecida.

Neste momento percebi que já aproveitei alguns centímetros cúbicos
de oportunidades que apareceram e que também deixei escapar outros por que não estava alerta.

Maria Lucia lembrou que quando se aconselhava com uma amiga em momentos difíceis ela sempre dizia: “Te aquiete, te aquiete.”

E Andrea nos lembrou do livro A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen de Eugen Herrigel. A flecha é atirada e não é você que a atira, somos instrumento para que a flecha seja atirada.

Mas o que nos desvirtua da Presença? O quanto não acreditamos que sabemos e ficamos empacados? Como ficar inteiro e presente 24 horas por dia?

Neste momento a Marcia nos contou a história da sua reunião ao ar livre, com seu chefe, “sem power point”, sem “ar condicionado” como pontuou o Fabrice, e o quanto foi importante buscar a sua luz interna e encontrar a luz do outro para criar o novo.

Ela dialogou com o coração aberto e gerou um momento empatia e conversa transparente com seu chefe. Ou seja, estar presente é enxergar com o coração.

Deixar ir

A Cris ressaltou que para conquistarmos o letting go, “deixar ir” para
que o novo possa entrar, não precisamos ser perfeitos ou “iluminados”; precisamos apenas renunciar ao controle e procurar nos libertarmos dos aprisionamentos gerados pela “bagagem” adquirida e armazenada ao longo de nossas vidas.

E Carlos relembrando trechos do livro Sidarta de Hermann Hesse, nos explicou
que muitas vezes procuramos e não encontramos e que encontramos
sem procurar.

Precisamos ver a vida como um milagre. Mas como colocou Adrian, ver o milagre, presenciar esta magnitude “dá medo” pois não conseguimos explicá-lo pelo mental e temos a tendência a deixá-lo de lado e entramos novamente na Matrix.

O momento mais tocante da reunião para mim foi a fala da Wilma sobre estar presente na ausência. Esta fala me fez perceber como pessoas que já estão ausentes fisicamente na minha vida são tão presentes nas minhas escolhas na vida.

Ela nos contou com saudosismo os momentos que presenciou a sua avó com sabedoria preparar uma lingüiça, escolher com cuidado seus ingredientes, separá-los, condimentá-los e depois juntá-los.

E comparou este processo ao aprendizado do grupo onde cada um
coloca o seu ingrediente, condimenta, transforma, complementa o
aprendizado do grupo.

A Cris complementou retomando o prefácio escrito por Peter Senge para o livro “A Empresa Viva” de Arie de Geus onde é mencionado que a palavra negócios em sueco significa alimento para a vida e os dois símbolos em Chinês antigo que representam a palavra “empresa” são traduzidos como “significado de vida”.

Refletimos que para que as empresas realmente pratiquem negócios elas precisam
resgatar as conversas sobre coisas que importam e que encantam as
pessoas.

Precisamos voltar a proar, conversar de forma descomprometida e sem objetivo, sem precisar resolver alguma coisa. Precisamos parar de sempre diagnosticar e analisar, vendo o outro como objeto de nossa análise e não como interlocutor de um diálogo aberto que
busca a sintonia.

Um silêncio profundo tomou conta do grupo. Vivenciei um momento
meditativo, onde nada pensava e nada sentia, mas tudo
compreendia.

Percebo agora que o grupo estava profundamente conectado e não precisava mais de palavras para dialogar.

Sai da reunião com um profundo sentimento de conexão e compreendi que a tarefa de registrar o nosso diálogo me propiciou um aprendizado fantástico e uma oportunidade de praticar o U.

Mas como sempre uma tarefa demandada por um mestre a um aprendiz, não é tão simples assim e exigiu um grande esforço emocional. As nossas palavras estavam carregadas de emoções e escutá-las e escrevê-las me levou a vivenciar esta emoção duplamente e ao mesmo tempo permitiu muitas descobertas.

Na tarde do mesmo dia, participei de uma reunião que seria difícil pois os interesses dos participantes, na minha visão inicial, eram contraditórios.

Procurei durante toda a reunião ouvir o outro com profundidade e com o coração e magicamente chegamos a uma solução integrada e inovadora e que atendia plenamente o interesse
coletivo.

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